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Tech & Energy Think Tank

Think tank independente com foco em energia, tecnologia e tendências globais. Análises para apoiar decisões estratégicas com visão de impacto.

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Autor: Eduardo Fagundes

  • Não precisamos de crédito bancário, precisamos de bons negócios e menos intervenção na economia

    Não precisamos de crédito bancário, precisamos de bons negócios e menos intervenção na economia

    Existe muita gente com dinheiro sem opções para investir no Brasil. Com certeza, aplicar dinheiro em bancos privados é um péssimo investimento. As pessoas com grandes fortunas estão perdendo dinheiro e ainda correndo o risco de aumento de impostos. Nossa bolsa de valores é frágil e restritiva para muitas empresas. No final de 2015 as 289 empresas com ações negociadas na bolsa valiam, juntas US$463,751 bilhões, menos que os US$528,448 bilhões do Google. Parece, e aqui no Brasil tudo parece, que a nova regulamentação de “equity crowdfunding” – sistema de financiamento coletivo para startups – está saindo do papel e deve facilitar a captação de fundos de apoio as novas empresas. O fato é que precisamos de bons negócios, liderados por empreendedores sérios e obstinados, para alavancar novos negócios, gerando mais riqueza e crescimento da economia brasileira. O governo (executivo e legislativo) tem um papel importante, que pode atrapalhar ou ajudar. Atrapalha se continuar a mudar as regras do jogo e legislando unilateralmente. Ajuda se criar mecanismos para simplificar o funcionamento das startups e reduzir os riscos de investidores individuais.

    O sucesso de um negócio começa antes dele ser lançado e está ligado diretamente à rede de relacionamento do empreendedor e sua capacidade de identificar novas oportunidades no mercado.

    O primeiro passo é identificar uma nova oportunidade de negócio, formata-la e testa-la na sua rede de relacionamento. Manter sua ideia em segredo com medo que alguém roube é uma visão equivocada. Colete feedbacks das pessoas e aperfeiçoe sua ideia. Monte um pitch e vá atrás de dinheiro. Evite ao máximo usar dinheiro próprio, compartilhe o risco.

    O segundo passo é os empreendedores colocarem como última opção a busca de crédito bancários para seus negócios. Devem explorar outras opções através da sua rede de contatos, de associações de classe, comunidades locais e programas de incentivo do governo (sim, existem, mas pouco divulgados).

    Uma boa opção é utilizar um sistema de financiamento coletivo para startups – equity crowdfunding – uma nova estrutura para a captação de recursos dentro do sistema de crowdfunding. O modelo usa sociedades de propósito específico (SPE) para investir nas statups. A SPE, também chamada de consórcio societário, é um tipo de personalidade jurídica, organizada na forma sociedade limitada ou anônima, constituída, para um determinado fim, com atuação limitada. Nesse modelo, os investidores fazem aportes por meio de campanhas online nos sites de equity crowdfunding adquirindo títulos de dívida conversíveis emitidos pela SPE. Isso beneficia tanto os investidores, reduzindo o risco de responsabilização que os sócios correm quando ocorrem problemas na empresa, como para os empreendedores que elimina o risco de pulverização de participantes, que inibe a captação de grandes investidores.

    O terceiro passo é buscar colaboradores capacitados e alinhados com a visão do empreendedor e… trabalhar pra caramba!

    O governo tem um papel importante na regulamentação do mercado. A crise econômica de 2008-09 foi, mais uma vez, gerada pela desregulamentação do mercado. Depois das políticas de incentivo dos governos dos países ricos usando o QE – Quantitive Easing – onde o Banco Central compra títulos, tais como títulos do governo, dos bancos e dinheiro eletrônico para aumentar o tamanho de suas reservas bancárias pela quantidade de ativos comprados (daí vem o nome quantative) para baixar os juros e estimular a economia, existe um receio que parte desse fluxo de caixa tenha sido utilizado de forma irresponsável. Isso pode gerar uma nova crise financeira.

    Outro ponto que exige reflexão é como a economia mundial permite que apenas 62 pessoas tenham uma riqueza maior que 3,5 bilhões de pessoas pobres. Isso coloca a necessidade de uma revisão global do sistema financeiro e como melhorar a distribuição de renda. Aqui o papel da comunidade internacional é fundamental para criar um movimento de mudança, um país sozinho não consegue mudar devido ao forte vínculo do poder econômico com os políticos. Um dos objetivos de desenvolvimento sustentável da ONU, onde o Brasil é signatário, tem o compromisso de corrigir essa distorção.

    Entretanto, o governo não pode assumir a condução sozinho da economia e mudar as regras do jogo toda hora. O pior cenário econômico é aquele que muda sem aviso.

    Continuo convencido que a única forma de sairmos da crise econômica e social é o empreendedorismo.

  • Lobistas internos retrógrados atrasam o crescimento das empresas

    Lobistas internos retrógrados atrasam o crescimento das empresas

    Você que é a favor do Uber e fã das séries da Netflix, provavelmente, é contra o lobby que os taxistas fazem nas Câmaras de Vereadores e Congresso contra o serviço e fica com medo de pagar mais e perder as melhores séries do planeta se o Netflix for regulado e limitado.

    Os usuários do Uber relatam a qualidade do serviço, além de carros ótimos a cortesia dos motoristas. Uma nova regulamentação em São Paulo obriga os motoristas de taxi a serem gentis com os passageiros e regulamenta inclusive as roupas que devem usar. Os taxistas já estão sentindo o impacto do Uber no faturamento.

    A Netflix é outro exemplo. Por aqui, estima-se que a Netflix 2,5 milhões de usuários e fature algo em torno de R$1 bilhão, próximo do faturamento do SBT, maior que a Band e RedeTV. Uma diferença é que a Netflix não é obrigada a pagar ICMS e nem ter no seu acervo um percentual mínimo de conteúdo nacional. Também é isenta da taxa do Condecine (Contribuição da Indústria Cinematográfica Nacional). Se adiantando a regulamentação a Netflix está lançando “3%” de conteúdo nacional e, obviamente, seremos prejudicados, pois ela terá que limitar o conteúdo internacional.

    No mundo a Netflix tem próximo de 70 milhões de usuários. Nos Estados Unidos, está presente na metade dos lares, tem cerca de 30% do tráfego de Internet no horário nobre e mais de 60 milhões de assinantes de TV a cabo cancelaram os serviços. As novas produções da Netflix estão sendo gravadas e finalizadas em 4K que permitirão alta qualidade de imagem.

    Assim como o Napster aterrorizou a indústria fonográfica, a Netflix está aterrorizando a indústria do cinema com suas séries e filmes exclusivos de alta qualidade.

    Claro, quando um grupo se vê ameaçado partem para o ataque, afinal para quem já está confortavelmente instalado mudanças são incomodas.

    Agora, vamos olhar para as nossas empresas. Será que não temos lobistas internos que sabotam a inovação para manter as coisas como estão? Aquele chefe (sic) que define como as coisas devem ser. O especialista certificado que nega uma mudança porque não está no “compliance” da norma ISO ou nos procedimentos que ele definiu. O grupo mais antigo de casa que querem “enquadrar” os jovens funcionários na cultura da empresa. Sim, temos vários lobistas internos que atrapalham a vida das empresas.

    As empresas gastam mais energia em “enquadrar” os funcionários novos do que aproveitar a oportunidade de alinhar seus modelos de negócios e desenvolvimento de novos produtos aproveitando as ideias das novas gerações.

    Vamos para um exemplo simples. Se você trabalha em uma empresa produz produtos ou serviços para consumo em massa, conte quantos executivos usam ônibus ou metro? Sem fazer parte do dia a dia dos consumidores será muito difícil capturar as necessidades dos consumidores. Entretanto, os jovens vivem o cotidiano do transporte coletivo, das baladas de final de semana, das viagens com amigos, da dupla jornada de trabalho e estudo, uso intensivo das redes sociais e gadgets e da grana curta. Cá entre nós, não usar essa experiência é um desperdício.

    Felizmente, tenho a sorte como professor de MBA e pai de duas universitárias a oportunidade de sempre “consultar os universitários” para entender melhor o comportamento das novas gerações. Consultar os jovens aperfeiçoa as ideias e mantem o pensamento e a cultura da organização sempre atual e preparada para mudanças rápidas no mercado.

    Se você é adepto do ditado que “em time que está ganhando não se mexe” ou se sua organização tem lobistas muito fortes, use a estratégia de montar startups para testar novas ideias e depois de consolidadas adote-as na empresa.

  • Os benefícios do Outsourcing de TI em tempos de recessão econômica

    Alguns gestores ainda encaram o outsourcing mais como uma opção de redução de custos do que aumento de eficiência operacional. Pior, consideram a redução apenas no seu centro de custo, não visualizando os impactos de custos nas áreas que prestam serviços internos. Os custos ocultos são os que mais impactam na eficiência operacional e muitas vezes não são considerados nas análises de viabilidade técnico/econômica.

    Felizmente, as novas modalidades de uso de software baseado em web ajudam na redução de custos. Por exemplo, eliminam a necessidade de distribuição de pacotes de softwares de atualização pesadas. O uso de discos virtuais aumentam a segurança e eliminam o tempo dos usuários de longos períodos para fazer backup de dados. A adoção do conceito de BYOD – Bring Your Own Device – reduz os custos de manutenção e gestão de alguns equipamentos. A adoção do ensino da distância (EaD) para treinamento dos usuários reduziu o custo e melhorou a capacitação dos usuários. O uso de Cloud Computing para alguns serviços reduziu o esforço de gerenciamento e recursos de infraestrutura. A migração de desktops para notebooks e o período de substituição dos equipamentos também influenciam nos custos.

    O uso de melhores práticas e tecnologias aumenta a segurança e gerenciamento, reduzindo consideravelmente o custo total de propriedade (TCO – Total Cost Ownership). A planilha a seguir compara os custos de ambientes sem gerenciamento com diferentes níveis de gerenciamentos em ambientes locais e de viagem, considerando funcionários operacionais (horário fixo de trabalho) e funcionários de conhecimento (horário estendido).

    desktop-tco-2013

    Os benefícios do outsourcing são maiores que uma simples redução de custos na linha do budget de TI. É uma grande oportunidade para aumentar a eficiência operacional da organização como um todo e um gatilho para adotar novas tecnologias que, no mínimo, alinham a empresa aos competidores mais eficientes.

  • O desafio da transformação da matriz energética

    O desafio da transformação da matriz energética

    Apesar do eloquentes discursos sobre a necessidade de investimentos em energia renovável para minimizar as mudanças climáticas na COP21 em Paris, o desafio para transformar a matriz energética é gigantesco. Não apenas no campo da tecnologia, mas na economia e política.

    No campo da tecnologia, para usar energia eólica e fotovoltaica temos que avançar na digitalização do sistema (Smart Grid). As fortes variações de frequência de geração de energia criam pertubações significativas na rede que podem levar ao desligamento automático de sistemas integrados. Para se ter uma ideia, a variação de geração de energia eólica pode variar de 100% para 10% em apenas 3 segundos.

    Outro ponto sobre tecnologia são as discussões sobre geração de energia centraliza e descentralizada. Tanto do ponto de vista técnico como econômico a geração centralizada é mais simples e barata. A geração distribuída e acoplada a sistemas elétricos integrados necessita de grandes investimentos em automação e controle para evitar falha no serviço. O uso de baterias de grande capacidade, que além de armazenar energia ajudam na estabilização do sistema, são caras e com produção limitada.

    Do ponto de vista econômico, substituir a energia gerada através de carvão, óleo e gás significa pesadíssimos investimentos. Atualmente, cerca de 80% da energia gerada no mundo usa combustíveis fosseis. Além disso, em alguns países ainda existem subsídios para energias de alta emissão de carbono. Aliás, uma tremenda distância entre o discurso ambiental e a prática.

    Na esfera política as escolhas são difíceis. Veja o caso do Brasil, qual a melhor opção? Usar o dinheiro público (Tesouro Nacional ou altos preços dos combustíveis) para salvar a Petrobrás, garantindo os royalties de Estados e municípios, a manutenção dos empregos, os investimentos realizados e planejados e o poder de barganha dos políticos ou redirecionar os investimentos para geração de energia renovável, incluindo financiamentos e subsídios?

    Apesar dos investimentos em projetos de petróleo estarem em declínio nos últimos dois anos, ainda têm uma parcela importante no contexto global de energia.

    O fato é que temos que investir em geração, transmissão e distribuição de energia para atender a crescente demanda. Cada vez mais a energia é fonte de crescimento econômico e alavancador de novas tecnologias, produtos e serviços.

    Parte da solução está na digitalização do sistema elétrico (Smart Grid) para melhorar o controle da demanda. Redes inteligentes permitem o uso mais eficiente de energia e, consequentemente, reduz e aproveita melhor os recursos de geração.

    Uma discussão interessante sobre transformação de energia foi realizada no Fórum Econômico Mundial 2016 em janeiro em Davos.