Eduardo M Fagundes

Tech & Energy Insights

Análises independentes sobre energia, tecnologias emergentes e modelos de negócios

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Engenharia Elétrica e a Crise de Formação no Brasil

Introdução – Um alerta necessário

O Brasil enfrenta um desequilíbrio crítico entre a demanda por engenheiros elétricos e a capacidade de formação do sistema educacional superior. Enquanto o país necessita formar de 20 mil a 30 mil engenheiros elétricos por ano para atender às demandas de transição energética, infraestrutura, digitalização e mobilidade elétrica, os dados do Censo da Educação Superior de 2023 revelam que apenas 11.732 estudantes concluíram o curso no último ano. Esse déficit anual, somado à elevada taxa de evasão — superior a 70% —, aponta para uma crise de formação técnica com implicações diretas no desenvolvimento nacional.

Apenas 11.732 estudantes concluíram Engenharia Elétrica em 2023 — menos da metade da demanda nacional estimada.

A análise mostra que a maioria dos estudantes está concentrada em instituições públicas, que operam sob forte restrição orçamentária e com infraestrutura limitada. Ao mesmo tempo, mais de 90% dos cursos registrados estão na modalidade EaD, muitos em formato híbrido, o que levanta questionamentos sobre a real capacidade prática oferecida. A infraestrutura de ensino está concentrada no Sudeste, enquanto regiões como o Norte e Centro-Oeste permanecem com acesso muito limitado a cursos presenciais qualificados. A participação do setor público na expansão de matrículas foi de apenas 5,8% entre 2012 e 2023, indicando retração do Estado em áreas técnicas estratégicas.

Além disso, dados do SAEB e do PISA 2024 demonstram que a maioria dos alunos conclui o ensino médio sem domínio suficiente em matemática, ciências e leitura técnica — pré-requisitos essenciais para acompanhar a exigência curricular da engenharia elétrica. Essa defasagem educacional impacta diretamente a evasão nos cursos e compromete o aproveitamento da formação.

Em contraste com esse cenário, surgem iniciativas exemplares como o Programa de Eficiência Energética da CPFL, desenvolvido em parceria com a nMentors, que combina teoria via EaD, prática com kits de medição, uso de inteligência artificial e projetos aplicados. Esse modelo representa uma solução viável, escalável e replicável para qualificar estudantes de engenharia com foco no mercado e nas necessidades reais do setor elétrico.

Este relatório propõe um conjunto de cinco ações estratégicas: investir na permanência estudantil, promover expansão seletiva em regiões carentes, fomentar parcerias público-privadas com foco prático, regulamentar com rigor os cursos EaD e mapear sistematicamente as causas da evasão. O objetivo é oferecer caminhos concretos para restaurar a qualidade e a eficácia da formação em Engenharia Elétrica no Brasil — condição indispensável para que o país avance em segurança energética, inovação tecnológica e desenvolvimento sustentável.

O problema estrutural

A formação de engenheiros elétricos no Brasil está presa em um ciclo de ineficiência estrutural. Embora exista uma crescente demanda do mercado por profissionais qualificados, o sistema educacional superior — especialmente o público — enfrenta dificuldades para formar engenheiros em volume e qualidade compatíveis com as necessidades do país. Esse problema se manifesta em quatro eixos principais: o recuo do setor público na expansão das matrículas, a sobrecarga das instituições públicas na formação em engenharia, o predomínio de cursos ofertados em formato EaD híbrido, e a alta evasão decorrente da falta de base escolar adequada.

Queda da participação pública na expansão das matrículas

Entre 2012 e 2023, o número total de matrículas em cursos de graduação no Brasil aumentou em quase 3 milhões. No entanto, apenas 5,8% desse crescimento ocorreu nas instituições públicas, segundo dados do INEP. Em algumas regiões, como o Norte e o Sul, o número absoluto de matrículas públicas caiu, sinalizando um recuo da presença estatal justamente onde há maior necessidade de interiorização e acesso qualificado ao ensino superior.

Entre 2012 e 2023, apenas 5,8% da expansão das matrículas de graduação no Brasil ocorreu em instituições públicas.

Essa tendência tem impactos diretos na formação em engenharia, uma vez que a maioria dos cursos com infraestrutura prática e capacidade de absorver turmas técnicas está concentrada na rede pública. A tabela abaixo resume a evolução da expansão pública por região:

RegiãoCrescimento TotalCrescimento PúblicoParticipação Pública (%)
Brasil2.939.094171.7545,8%
Norte300.727-23.287-7,7%
Nordeste684.34031.3184,6%
Sudeste1.153.965189.18816,4%
Sul576.087-68.923-12%
Centro-Oeste221.19343.45819,6%

Relevância das instituições públicas na formação

Apesar da ampla presença numérica do setor privado no ensino superior — que lidera em número de instituições e cursos ofertados — os dados revelam que, no caso específico da Engenharia Elétrica, o setor público ainda desempenha um papel relevante na formação de profissionais.

A tabela a seguir mostra a distribuição de escolas e estudantes de Engenharia Elétrica por região do Brasil, discriminando entre instituições públicas e privadas, e evidenciando tanto o número absoluto quanto a capacidade de absorção de cada rede.

RegiãoTotal de EscolasTotal de EstudantesEscolas PrivadasEscolas PúblicasEstudantes PrivadosEstudantes Públicos
Centro-Oeste1427.79964104.8472.952
Nordeste27519.296972710.1589.138
Norte1748.63464115.6253.009
Sudeste30645.5461912931.92813.618
Sul17520.1601031811.9958.165

Esses dados revelam um fenômeno recorrente: embora o setor privado concentre a maior parte das escolas, o setor público forma quase metade dos engenheiros elétricos matriculados no país. Essa tendência é especialmente marcante em regiões como o Nordeste, onde apenas 27 instituições públicas absorvem praticamente o mesmo número de estudantes que 97 instituições privadas.

O mesmo padrão se repete no Sul e Centro-Oeste, demonstrando que a capacidade formativa por escola pública é significativamente superior, mesmo em um cenário de limitações orçamentárias, estrutura física defasada e número reduzido de docentes.

Essa concentração da responsabilidade formativa em poucas instituições públicas gera um risco estrutural: qualquer corte de orçamento, perda de professores ou estrangulamento de infraestrutura nessas IES impacta diretamente a produção anual de engenheiros elétricos no Brasil.

Além disso, como essas instituições geralmente oferecem cursos presenciais com laboratórios completos e professores com dedicação exclusiva, elas são essenciais para manter a qualidade técnica mínima exigida pelo setor produtivo — especialmente em áreas como sistemas elétricos, energia renovável, eletrônica de potência e automação.

Modalidade EaD: prevalência numérica, limitações práticas

Um dos pontos que chama atenção nos dados do Censo da Educação Superior é o grande número de cursos de Engenharia Elétrica registrados na modalidade Educação a Distância (EaD). Em termos absolutos, a quantidade de cursos EaD supera amplamente a oferta presencial — o que, à primeira vista, pode sugerir um modelo incompatível com a natureza prática da engenharia.

No entanto, é importante contextualizar esse dado: muitos desses cursos classificados como EaD operam, na prática, em formato híbrido. Ou seja, os alunos precisam comparecer regularmente à instituição para atividades presenciais obrigatórias, especialmente em laboratórios. Essa configuração híbrida é comum nas engenharias e visa atender exigências regulatórias mínimas de prática supervisionada e avaliação presencial.

Além disso, é necessário destacar que o número elevado de cursos EaD não reflete diretamente o número de instituições ou de matrículas. Isso porque:

  • Uma mesma instituição pode registrar diversos cursos com pequenas variações curriculares.
  • O EaD, ao ser ofertado por polos, resulta em múltiplos registros no sistema, mesmo quando a estrutura pedagógica central é compartilhada.

Ainda assim, o dado é relevante porque evidencia a estratégia de expansão quantitativa por parte do setor privado — baseada em escala e distribuição nacional —, sem que isso implique, necessariamente, expansão proporcional da infraestrutura física e laboratorial.

Essa realidade é crítica para áreas como Engenharia Elétrica, onde a formação prática — em laboratórios de circuitos, sistemas de potência, eletrônica, instrumentação e automação — é indispensável para a competência profissional.

Em resumo: a modalidade EaD pode cumprir um papel complementar, desde que adequadamente estruturada, mas não pode ser tratada como solução primária para a formação de engenheiros elétricos em larga escala. A ênfase deve permanecer na qualidade da infraestrutura prática e no acompanhamento técnico de cada etapa do aprendizado.

Alta evasão e baixa taxa de conclusão

Uma das consequências mais evidentes do desequilíbrio estrutural na formação de engenheiros elétricos no Brasil é a alta evasão e a baixa taxa de conclusão dos cursos. Em 2023, segundo o Censo da Educação Superior (INEP/MEC), mais de 40 mil estudantes ingressaram em cursos de Engenharia Elétrica, mas apenas 11.732 concluíram a graduação naquele ano. Isso representa uma taxa de conclusão estimada de apenas 28,7%. Em outras palavras, mais de sete em cada dez estudantes abandonam o curso antes de se formar.

Mais de 70% dos estudantes que ingressam em Engenharia Elétrica abandonam o curso antes de concluir.

Embora existam múltiplas causas para essa evasão — como dificuldades financeiras, incompatibilidade entre expectativa e realidade, carga horária elevada, ausência de suporte pedagógico e emocional — uma das mais persistentes e estruturais é a fragilidade da formação escolar anterior. A maioria dos estudantes ingressa no ensino superior sem dominar os conhecimentos fundamentais exigidos para acompanhar um curso tecnicamente exigente como Engenharia Elétrica.

Os dados do Sistema de Avaliação da Educação Básica (SAEB) e do Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (PISA) reforçam essa constatação. No SAEB 2021, apenas 16% dos alunos da 3ª série do ensino médio alcançaram pontuações superiores a 300 pontos em matemática — um patamar mínimo de proficiência compatível com as exigências cognitivas dos cursos de engenharia. Apenas 0,3% dos alunos atingiram o nível mais alto da escala (≥425), o que evidencia a baixíssima proporção de estudantes com domínio avançado da disciplina. Em Língua Portuguesa, o desempenho foi igualmente preocupante: menos de 7% dos alunos superaram 350 pontos, o que compromete habilidades de leitura técnica, interpretação de manuais, normas e textos científicos.

Apenas 16% dos alunos do ensino médio alcançam nível suficiente de matemática para acompanhar cursos de engenharia.

No plano internacional, o PISA 2024 posicionou o Brasil entre os dez piores países do mundo em matemática. O desempenho também foi crítico em ciências — o segundo pior da América Latina — e houve queda de 11 pontos na média de leitura em relação ao PISA 2018. Apenas 1% dos estudantes brasileiros atingiram os níveis 5 ou 6 de proficiência em matemática, os mais altos da avaliação. Esses resultados revelam que a maioria dos jovens brasileiros conclui o ensino médio sem competências essenciais para ingressar, com sucesso, em cursos que exigem raciocínio lógico, abstração e domínio técnico, como a Engenharia Elétrica.

Essa desconexão entre a educação básica e o ensino superior técnico gera frustração, reprovação repetida e, inevitavelmente, abandono do curso. Sem reforço à formação básica — especialmente em matemática, ciências e linguagem técnica — qualquer esforço para ampliar o número de engenheiros formados será ineficaz. A evasão, portanto, não é apenas um reflexo da dificuldade do curso em si, mas de um sistema educacional que falha em preparar adequadamente seus estudantes para carreiras estratégicas.

A desconexão entre demanda e formação

Enquanto a economia brasileira se transforma e exige profissionais cada vez mais qualificados em tecnologia, energia e infraestrutura, o país enfrenta uma dissonância crítica entre a demanda real por engenheiros elétricos e a capacidade de formação do sistema educacional.

Estudos de mercado, estimativas do setor energético e projeções de entidades como a Confederação Nacional da Indústria (CNI), a Empresa de Pesquisa Energética (EPE) e associações profissionais indicam que o Brasil necessita formar entre 20 mil e 30 mil engenheiros elétricos por ano para atender suas metas de crescimento, transição energética e modernização da infraestrutura. Essa estimativa considera projetos em andamento e planejados nas áreas de geração distribuída, energia solar e eólica, expansão de redes inteligentes (smart grids), eletrificação de frotas e indústrias, construção de datacenters, infraestrutura digital e cidades inteligentes.

No entanto, os dados do Censo da Educação Superior de 2023 revelam uma realidade alarmante: apenas 11.732 estudantes concluíram o curso de Engenharia Elétrica em todo o país. Isso representa menos da metade da demanda mínima estimada, e ainda desconsidera o número de profissionais que se aposentam, migram para outras áreas ou deixam de atuar na profissão. A diferença entre o que o Brasil precisa e o que efetivamente forma configura um déficit técnico estrutural, que tende a se agravar nos próximos anos.

Essa lacuna tem consequências diretas e imediatas. A primeira é a dificuldade de acelerar a transição energética. A expansão da geração solar fotovoltaica, das usinas eólicas offshore, da mobilidade elétrica e da digitalização dos sistemas elétricos exige mão de obra altamente especializada. Sem engenheiros capacitados, projetos estratégicos enfrentam atrasos, sobrecustos ou baixa qualidade técnica.

A segunda consequência é o risco à qualidade e à segurança da infraestrutura energética existente. Redes sobrecarregadas, falhas de distribuição, perdas técnicas e falta de manutenção são sintomas não apenas de má gestão, mas da escassez de profissionais habilitados para planejar, operar e modernizar os sistemas elétricos. Isso afeta diretamente a confiabilidade do fornecimento de energia, a competitividade industrial e a atratividade do Brasil como destino de investimentos tecnológicos.

Além disso, a formação insuficiente compromete setores emergentes como o de datacenters e cidades inteligentes, que dependem fortemente de sistemas elétricos resilientes, automatizados e integrados com tecnologias da informação. Projetar, implementar e manter essas soluções exige engenheiros com formação sólida, conhecimento interdisciplinar e capacidade de operar em ambientes altamente técnicos.

Em suma, há uma incompatibilidade grave entre o volume de engenheiros elétricos que o país forma e o volume que a economia precisa. Essa desconexão compromete não apenas a eficiência de políticas públicas e investimentos privados, mas também a capacidade do Brasil de liderar agendas tecnológicas e ambientais no cenário internacional.

A Engenharia Elétrica não é apenas uma profissão — é uma questão de soberania energética e tecnológica.

Resolver esse descompasso exige mais do que ampliar vagas — requer uma transformação estrutural na maneira como o país forma, atrai, apoia e retém seus futuros engenheiros.

O que os dados mostram

Ao analisar os números mais recentes da educação superior no Brasil, especialmente na área de Engenharia Elétrica, fica evidente um padrão desigual e insuficiente de desenvolvimento da infraestrutura de ensino técnico. Apesar do crescimento no número de cursos, os dados mostram que o modelo atual de expansão não tem sido capaz de resolver os gargalos regionais nem de atender adequadamente à demanda por profissionais bem formados.

A primeira constatação é a concentração geográfica da infraestrutura de ensino técnico, em especial nos cursos presenciais de Engenharia Elétrica. A região Sudeste, mais desenvolvida economicamente, abriga o maior número de instituições, cursos e matrículas, concentrando também a maior parte da capacidade instalada em laboratórios, docentes especializados e polos de pesquisa. Em contraste, regiões como o Norte e o Centro-Oeste contam com infraestrutura muito mais limitada, tanto em quantidade quanto em qualidade, o que restringe o acesso regionalizado à formação técnica e contribui para a perpetuação das desigualdades de desenvolvimento.

Essa desigualdade se soma ao baixo protagonismo do setor público na expansão do ensino superior ao longo da última década. Segundo o INEP, entre 2012 e 2023 o crescimento total de matrículas na graduação foi de quase 3 milhões, mas apenas 5,8% desse aumento ocorreu em instituições públicas. O restante foi absorvido por instituições privadas, sobretudo com fins lucrativos. Em regiões como o Norte e o Sul, o número absoluto de matrículas públicas chegou a cair, sinalizando um recuo preocupante da presença do Estado em áreas estratégicas para a qualificação técnica.

Outro dado que salta aos olhos é a prevalência numérica dos cursos oferecidos na modalidade EaD, que representam a maioria das ofertas registradas em Engenharia Elétrica. Embora muitas dessas ofertas operem em formato híbrido, com atividades presenciais obrigatórias em laboratório, o volume elevado de registros EaD não corresponde necessariamente a uma expansão real da capacidade prática instalada. Laboratórios, equipamentos especializados, oficinas técnicas e acompanhamento presencial são condições indispensáveis para a formação de engenheiros — e muitas dessas estruturas não estão presentes nos polos EaD descentralizados, especialmente em regiões mais carentes.

Mais de 90% dos cursos de Engenharia Elétrica estão registrados como EaD — muitos sem infraestrutura prática compatível.

O crescimento numérico de cursos EaD em engenharia representa, muitas vezes, uma expansão da aparência institucional, sem a equivalência material na estrutura de formação prática.

O conjunto desses dados aponta para uma expansão desbalanceada, em que a quantidade de cursos e matrículas aumentou, mas a capacidade real de formar engenheiros qualificados — com prática, supervisão técnica e tempo dedicado ao aprendizado — permanece limitada e concentrada. Isso gera um efeito cascata: estudantes mal preparados, infraestrutura sobrecarregada nas instituições públicas, evasão elevada e um número de formandos muito aquém da necessidade nacional.

Para reverter esse quadro, é necessário ir além do discurso de “ampliação de acesso”. O foco precisa estar na expansão da capacidade prática, na distribuição regional mais equitativa da infraestrutura de ensino e no fortalecimento de modelos de formação que priorizem qualidade, não apenas escala.

Um exemplo positivo: o Programa de Eficiência Energética da CPFL

Diante dos desafios estruturais da formação em Engenharia Elétrica no Brasil, algumas iniciativas têm se destacado por oferecer modelos inovadores, práticos e replicáveis. Um exemplo notável é o Programa de Eficiência Energética da CPFL, que alia conteúdo técnico, formação prática e tecnologias educacionais para preparar estudantes com foco no mundo real da engenharia.

Desenvolvido no contexto do Programa de Eficiência Energética regulado pela ANEEL, o projeto é direcionado a estudantes a partir do 7º semestre do curso de Engenharia Elétrica, momento em que os alunos já possuem base teórica suficiente para se aprofundar em aplicações práticas. O curso é estruturado em dois eixos complementares:

  1. Conteúdo teórico on-line, acessível por meio de uma plataforma EaD com trilhas de aprendizagem organizadas por módulos, cobrindo temas como consumo racional, diagnóstico energético, normas técnicas e boas práticas em instalações elétricas.
  2. Atividades práticas supervisionadas, nas quais os alunos aplicam os conceitos aprendidos por meio de projetos reais de eficiência energética, desenvolvidos em campo com o uso de kits de instrumentos profissionais fornecidos pelo programa. Esses kits incluem alicates amperímetros, medidores de energia, termômetros infravermelhos e outros equipamentos essenciais para o diagnóstico energético de instalações.

Além do conteúdo técnico, o programa inova ao incorporar um chatbot com inteligência artificial que fornece suporte contínuo aos alunos, tirando dúvidas, reforçando conceitos e orientando o desenvolvimento dos projetos. O uso dessa tecnologia amplia o alcance do acompanhamento pedagógico e oferece um canal de apoio acessível e responsivo, inclusive fora do horário de aula.

Um aspecto a destacar é a parceria com a nMentors, empresa especializada em soluções educacionais para áreas técnicas e tecnológicas. A nMentors foi responsável por:

  • Desenvolver todo o conteúdo didático e instrucional, estruturado com base em metodologias de aprendizagem ativa, microlearning e ensino baseado em competências.
  • Elaborar os roteiros dos projetos práticos, promovendo a integração efetiva entre teoria e campo, com atividades aplicadas a contextos reais de consumo e eficiência energética.
  • Oferecer mentoria técnica e pedagógica aos alunos, assegurando que cada projeto fosse desenvolvido com orientação qualificada e incorporando o uso de tecnologias emergentes, como diagnósticos instrumentais e modelagem de soluções.
  • Coordenar o desenvolvimento do chatbot com inteligência artificial, concebido para atuar como um mentor digital, disponível 24/7 para responder dúvidas, reforçar conceitos e apoiar o progresso individual dos alunos ao longo do curso.

Essa abordagem integrada de conteúdo, prática supervisionada, mentoria e tecnologia educacional tornou o programa um modelo inovador e eficaz, com forte potencial de replicação em outras instituições e empresas que desejam contribuir para a qualificação de engenheiros elétricos no Brasil.

O programa foi concebido não apenas como uma ação de capacitação, mas como um modelo pedagógico escalável e replicável. Ele demonstra que é possível construir experiências de aprendizagem significativas em engenharia, com baixo custo relativo, alta relevância prática e forte engajamento estudantil — especialmente quando o setor privado atua em colaboração com especialistas em educação técnica.

Essa iniciativa da CPFL, em parceria com a nMentors, representa um exemplo concreto de como o setor energético pode contribuir para a melhoria da formação em Engenharia Elétrica. Mais do que um projeto isolado, é um modelo de referência que pode — e deve — ser seguido por outras concessionárias, empresas de infraestrutura e indústrias tecnológicas.

O Programa de Eficiência Energética da CPFL é uma prova de que formação prática, tecnologia e parceria com o setor privado funcionam.

Ao conectar formação, prática e tecnologia, o programa contribui diretamente para reduzir o hiato entre teoria e aplicação, estimular a permanência dos alunos no curso e fortalecer o vínculo entre universidade e setor produtivo. É uma evidência clara de que, com foco e cooperação, é possível criar soluções para os desafios estruturais da formação em engenharia no Brasil.

Propostas concretas

Para reverter o cenário de desequilíbrio na formação de engenheiros elétricos no Brasil, é fundamental adotar medidas práticas, bem fundamentadas e alinhadas com as necessidades reais do setor produtivo e da sociedade. A superação dos gargalos identificados — como evasão elevada, desigualdade regional, expansão desordenada e formação deficiente — exige uma combinação de políticas públicas, regulação eficaz e cooperação com o setor privado.

Uma primeira frente de ação prioritária é o fortalecimento das políticas de permanência estudantil nos cursos de Engenharia Elétrica. A evasão não decorre apenas das exigências acadêmicas, mas também das condições sociais e econômicas enfrentadas pelos estudantes. Muitos abandonam o curso por não conseguirem conciliar trabalho e estudo, por falta de apoio didático, ou pela ausência de acompanhamento psicológico e pedagógico. Programas de tutoria, bolsas de permanência, suporte em disciplinas críticas e acesso a infraestrutura mínima de estudo são medidas essenciais para garantir que os alunos não apenas ingressem, mas permaneçam e se formem com qualidade.

Além disso, é urgente reduzir as desigualdades regionais na capacidade instalada de ensino técnico. Regiões como Norte e Centro-Oeste têm baixa oferta de cursos presenciais com infraestrutura prática adequada. Para enfrentar esse desequilíbrio, o governo deve criar editais de expansão seletiva, priorizando investimentos em laboratórios, equipamentos, contratação de docentes em tempo integral e integração com redes locais de inovação tecnológica. Esse tipo de expansão qualificada pode corrigir distorções históricas e ampliar o acesso regionalizado à formação de engenheiros.

Outra proposta fundamental é o estímulo a parcerias público-privadas, nos moldes do que tem sido feito pela CPFL, em colaboração com a nMentors, no âmbito do Programa de Eficiência Energética. Ao combinar conteúdo teórico estruturado, atividades práticas reais, kits de medição profissional e suporte com inteligência artificial, essa iniciativa representa um modelo replicável para outras empresas e setores. Programas como esse fortalecem o vínculo entre universidade e mercado, oferecem aprendizado aplicado e permitem que os estudantes se aproximem de problemas reais com orientação qualificada.

No campo regulatório, é essencial que o Ministério da Educação reavalie os critérios para autorização de cursos de engenharia na modalidade EaD. Embora muitos operem em formato híbrido, ainda há casos em que a oferta prática é insuficiente ou fragmentada. Nenhum curso de Engenharia Elétrica — ou de qualquer outra engenharia — deveria ser autorizado sem comprovar infraestrutura laboratorial adequada, plano de atividades presenciais supervisionadas e avaliação in loco. Essa medida não busca restringir o acesso, mas garantir que a formação respeite os padrões técnicos e de segurança exigidos pela profissão.

Por fim, é necessário mapear de forma sistemática as causas da evasão. Hoje, faltam dados consolidados que permitam compreender em que momento os alunos desistem, quais são os principais fatores de abandono e quais perfis estão mais vulneráveis. Com essas informações, as instituições poderão adotar ações preventivas e direcionadas, desde revisão curricular até suporte emocional, criando ambientes mais acolhedores e eficientes.

Investir em permanência estudantil é mais eficiente do que apenas abrir novas vagas.

A combinação dessas medidas — permanência estudantil, expansão seletiva, parcerias qualificadas, regulação rigorosa do EaD e combate à evasão — representa um conjunto concreto de caminhos para reverter a crise na formação em Engenharia Elétrica. Mais do que resolver uma demanda setorial, essas ações fortalecem a capacidade do país de inovar, crescer e garantir sua soberania energética e tecnológica nos próximos anos.

PropostaDescrição Resumida
Permanência estudantilAuxílio financeiro, tutoria, suporte técnico e acadêmico para reduzir a evasão.
Expansão seletiva regionalEditais com foco em laboratórios e docentes em regiões com baixa oferta de cursos.
Parcerias público-privadasAcordos com empresas (ex: CPFL/nMentors) com aplicação prática e mentoria real.
Regulação do EaD em engenhariaExigir comprovação de infraestrutura prática para autorizar novos cursos EaD.
Mapeamento e combate à evasãoDiagnóstico institucional das causas de evasão e ações corretivas específicas.

Conclusão – Um chamado à ação

A transição energética, a digitalização da economia e a modernização da infraestrutura brasileira não são mais aspirações distantes — são exigências concretas de um país que precisa crescer com sustentabilidade, competitividade e segurança. No centro desse processo está um profissional-chave: o engenheiro eletricista. Sem ele, não há como expandir a geração renovável, modernizar redes de distribuição, eletrificar transportes ou implementar cidades inteligentes. No entanto, o Brasil está falhando em formar esses profissionais no volume e na qualidade que a realidade exige.

Os dados reunidos neste estudo demonstram, de forma inequívoca, que o país enfrenta uma desconexão estrutural entre a demanda por engenheiros elétricos e a capacidade de formação técnica atual. Forma-se menos da metade do número necessário de engenheiros. A evasão ultrapassa 70%. A expansão das matrículas se concentrou no setor privado e, em grande parte, em cursos EaD — muitos dos quais não oferecem as condições práticas necessárias para formar um profissional apto a atuar com segurança e competência. A infraestrutura de ensino está mal distribuída regionalmente, e a base educacional dos ingressantes no ensino superior é, muitas vezes, insuficiente para acompanhar as exigências da engenharia.

Diante desse cenário, é urgente mudar o foco. Precisamos abandonar a lógica da expansão quantitativa sem critério e construir um novo modelo de formação técnica centrado na qualidade, na permanência e na prática aplicada. Essa transformação exige compromisso de todos os setores: do Ministério da Educação, que deve investir com estratégia e regular com firmeza; das universidades, que precisam apoiar melhor seus estudantes e modernizar seus currículos; das empresas, que têm o poder e a responsabilidade de contribuir com conhecimento aplicado e tecnologias educacionais; e da sociedade, que deve reconhecer que sem engenheiros formados, não haverá desenvolvimento real.

A formação em Engenharia Elétrica não é apenas uma pauta da educação superior. Ela é uma questão estratégica nacional. O que está em jogo não é apenas o futuro de uma profissão — é o futuro energético, tecnológico e econômico do Brasil.

Sem engenheiros elétricos, não há futuro conectado. Não há energia limpa. Não há país desenvolvido.

Sem engenheiros elétricos, não há futuro conectado. Não há energia limpa. Não há país desenvolvido. Este é o momento de agir — antes que o apagão na formação se transforme em apagão de oportunidades.

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