Eduardo M Fagundes

Artigos

Coletânea de artigos técnicos e reflexões de Eduardo M. Fagundes publicados entre 2011 e 2017

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Autor: Eduardo Fagundes

  • A 4ª Revolução Industrial

    Não existem dúvidas que estamos entrando em uma nova revolução industrial, a quarta na história da humanidade. A primeira em 1784, foi usado o poder do vapor de água para mecanizar a produção. A segunda em 1870, a energia elétrica foi utilizada para a produção em massa. A terceira em 1969, a tecnologia da informação automatizou a produção. A quarta revolução será impulsionada pela fusão de tecnologias nas esferas digital, física e biológica. Essa revolução não é um prolongamento da terceira, pois as transformações são mais velozes, de maior alcance e trazem maior impacto na sociedade. As mudanças estão ocorrendo de forma exponencial e não mais linear, afetando a produção e os modelos de governança e gestão.

    Com bilhões de pessoas conectadas através de dispositivos móveis, com acesso a um poder de processamento sem precedentes e capacidade de armazenamento, o conhecimento passa a ser ilimitado. Os avanços tecnológicos serão ainda mais rápidos com o uso de inteligência artificial, robótica, Internet das Coisa (IoT), veículos autônomos, impressão 3D, nanotecnologia, biotecnologia, ciência de materiais, armazenamento de energia e computação quântica.

    Todas essas tecnologias integradas criarão novas gerações de produtos e serviços em precedentes: novos medicamentos, novos materiais usando biologia sintética com simbiose entre microrganismos, e mudando até os nossos conceitos de alimentação e nossas habitações.

    Essa revolução no longo prazo, reduzirá o custo do transporte, de comunicação, de logística e das cadeias de fornecimento, pelo considerável ganho de produtividade. Isso abrirá novos mercados e impulsionará o crescimento econômico.

    Por outro lado, existe o risco de aumentarmos a desigualdade social. A automação substitui o trabalhador pelas máquinas, embora gere empregos mais qualificados com maior remuneração. Entretanto, pode criar uma segmentação severa dos trabalhadores, aqueles que baixa qualificação/baixa remuneração e aqueles com alta qualificação/alta remuneração, podendo surgir o aumento de tensões sociais.

    Os maiores beneficiados serão pessoas e empresas inovadoras que usarão seu conhecimento e capital de investidores para aumentar ainda a riqueza dos ricos, aumentando ainda mais a distância entre o capital e o trabalho.

    Essa situação torna os trabalhadores ainda mais desiludidos e com medo do futuro. Mesmo a classe média atual está insatisfeita com a injustiça da desigualdade social.

    No lado dos empresários, eles estão percebendo que as novas tecnologias geram produtos e serviços totalmente diferentes que perturbam, significativamente, as atuais cadeias de valor da indústria. As plataformas digitais de pesquisa, desenvolvimento, marketing, vendas e distribuição derrubam os processos tradicionais e estabelecidos com muito mais qualidade, velocidade e preços mais atraentes.

    Uma tendência nesse novo cenário é a substituição do “possuir” pelo “compartilhar”. As plataformas digitais alteram os ambientes pessoais e profissionais das pessoas, permitindo a multiplicação de novos serviços, como o Uber.

    Nesse contexto, os governos não conseguem adaptar a legislação e os serviços públicos, como sistemas de vigilância e regulamentação de novos serviços, gerando insatisfação e sentimento de incompetência pela população. Talvez, um dos maiores impactos será na segurança nacional, através da guerra cibernética.

    A quarta revolução industrial trará um impacto enorme nas profissões e na forma de ensino. Muitas profissões e habilidades desenvolvidas e que ainda estão sendo ensinadas nas escolas e Universidade cairão em desuso. O desafio é saber como recuperar o tempo perdido e se reinventar como profissional para manipular as novas tecnologias em um novo ambiente de trabalho.

    A boa notícia é que a humanidade já passou por três revoluções industriais e as pessoas sobreviveram se adequando as novas tecnologias e práticas de negócios. Obviamente, quem começar sua transformação antes terá mais chances de competir e ocupar um lugar de destaque na nova economia.

  • Data de validade da Petrobrás

    Tudo tem data de validade. A Terra, 5 bilhões de anos. O Sol, 10 bilhões de anos. As pessoas, 75,2 anos (78,8 para mulheres e 71,6 para os homens, no Brasil). A vida na Terra como conhecemos hoje até 2.100, devido as mudanças climática. Os regimes políticos, a moda, nossa habilidade profissionais e até mesmo os conceitos de certo e errado.

    Qual a data de validade da Petrobrás? Meu chute é janeiro de 2045.

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  • Energia fotovoltaica gerará 4% da matriz energética brasileira até 2024

    Estima-se que a energia fotovoltaica, gerada a partir de painéis solares, produzirá 7 GW (giga watts) de eletricidade até 2024, metade da energia produzida pela Usina de Itaipu. Em 2015 houve um crescimento de 300% da micro e mini geração, produção independente até 1MWp. Espera-se contratações na ordem de R$8 bilhões até 2018 para as grandes usinas fotovoltaicas, que poderão empregar até 30 mil trabalhadores.

    Finalmente, estamos saindo do marasmo e investindo em energia solar e esperamos o mesmo sucesso da energia eólica no pais. O Brasil tem um gigantesco potencial para gerar energia renovável, nossos ventos são bons e somos privilegiados em irradiação solar. Só para se ter uma ideia, a menor região de irradiação solar no Brasil é a maior na Alemanha. A Alemanha conseguiu em recorde em 2012 de gerar 22 GW, que representou 50% do consumo no país.

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    O Brasil é signatário da COP21 e anunciou em 2015 na ONU (Organização das Nações Unidas) que a geração de energia renovável representará 45% até 2030, dentro do esforço para reduzir o impacto das mudanças climáticas.

    Nem tudo são rosas. O grande desafio energia eólica e solar é mitigar a grande variação de geração em poucos segundos. A produção pode variar de 100% a 10% em apenas 3 segundos, entre uma rasada de vento e outra ou quando uma nuvem espessa faz sombra nos painéis solares.

    No caso da energia fotovoltaica, ela só gera energia durante o dia. Durante o período da noite, onde temos o horário de pico de consumo (entre 18 horas e 21 horas) a energia deve ser gerada por fontes de base, como hidrelétricas ou termelétricas. Isso significa que temos que manter um parque de usinas com geração convencional para suprir a demanda em momentos onde as energias eólica e fotovoltaica não suprem. Obviamente, teremos menos necessidade de uso da água dos reservatórios e menos utilização de óleo e gás. Nesse último caso, reduzindo a emissão de gases do efeito estufa.

    Uma solução técnica que está sendo adotada é o uso de grandes baterias, montadas em container, para o armazenamento de energia durante o dia para uso a noite, além de compensar as variações de geração das usinas eólicas e fotovoltaicas.

    O desenvolvimento de energia fotovoltaica no pais, tanto para o setor residencial como empresarial, depende de incentivos do governo. A Alemanha, subsidiou as instalações fotovoltaicas em residências desde 2.000. Espera-se que os incentivos sejam atrativos no Brasil para motivar ainda mais a adoção de mini geração nas residências.

    O programa Minha Casa Minha Vida (MCMV) pode adotar como a geração fotovoltaica como padrão, como é o caso do aquecimento de água por painéis solares. Dependendo da legislação, as comunidades do programa MCMV podem reduzir o custo da conta de luz entregando para a concessionária de distribuição local o excedente de energia produzida, baseado na resolução nº 482 da Aneel (Agencia Nacional de Energia Elétrica).

    Uma ameaça a energia fotovoltaica no Brasil é o início da produção de gás de xisto e seu uso na geração em termelétricas. Uma ala do governo federal está convicta que a produção de gás de xisto pode reduzir, significativamente, o custo da energia. O gás de xisto (shale gas) é uma das apostas dos Estados Unidos para a autossuficiência energética. Pelos riscos ambientais, muitas cidades no Brasil estão proibindo sua exploração.

    Na minha visão, o sucesso da implantação em larga escala da energia fotovoltaica no Brasil dependerá do modelo de negócio adotado. Acredito que o uso do modelo tradicional, mesmo com incentivos do governo, não é suficiente para a expansão exponencial e aproveitando do potencial de mercado existente. Temos que desenvolver novos modelos de negócio.

  • Não matem os consumidores

    Está difícil entender o cenário social, político e econômico mundial. Existem muitas previsões, mas uma decisão de um governante ou a mobilização de milhares de pessoas pode alterar um cenário prospectivo linear. Impossível analisar apenas o cenário local, pois ele está fortemente interligado com os movimentos internacionais. Por outro lado, temos que assumir o controle da situação. Isso começa com a transformação do nosso negócio para adequá-lo à nova realidade econômica e comportamento dos consumidores.  Sugiro nesse artigo duas propostas: alugar ao invés de vender e promover o empreendedorismo.

    A queda do crescimento da China, que hoje representa quase 20% do PIB mundial, afeta significativamente as exportações de muitos países. A redução do preço do barril do petróleo para US$32 e a decisão de governo saudita de manter a produção, coloca em colapso as economias dos produtores, incluindo Rússia, Irã, Angola e a moribunda Venezuela. Torna o programa brasileiro do Pré-Sal inviável e afetando as economias municipais e estadual pela redução dos royalties, aprofundando a crise do governo. A forte tensão nos países europeus com a chegada dos refugiados. As investidas sangrentas do Estado Islâmico. A recessão no Japão. A redução dos preços internacionais da commodities, o aumento dos juros no Brasil para frear a inflação e o aumento da taxa de desemprego, neutralizam a retomada do crescimento brasileiro. Bom, vamos parar por aqui. A lista de eventos é longa.

    O cenário nacional e internacional não é favorável. A primeira reação das pessoas é reduzir o consumo e guardar dinheiro por precaução. Entretanto, a inflação corrói o poder aquisição e não sobra para poupar. Situação pior para quem perde o emprego e não tem um perfil de empreendedor para buscar novas formas de ganhar dinheiro. Nesse cenário entramos em uma espiral negativa.

    Infelizmente, o Brasil perdeu o bonde do crescimento por não saber aproveitar o período de ouro de alta de preços da commodities (2004-2008). Ao invés de criarmos uma infraestrutura robusta e estabelecer acordos comerciais fortes com outros países, optamos por incentivar o consumo interno e permitimos que políticos e empresários corruptos esfoliassem nossas reservas (a operação Lava a Jato que o diga). O fato é que o Brasil se tornou irrelevante no cenário internacional, exceção de algumas iniciativas de preservação do meio ambiente.

    Fora dos grandes acordos internacionais, como o Trans-Pacific que reúne países do oceano Pacífico representando cerca de 40% do comércio internacional, o Brasil ficou sem muitas opções de exportação. O Mercosul acabou. Nossa moeda foi a que mais desvalorizou no mercado internacional, tornando os produtos importados mais caros. Mesmo com o aumento das exportações do nosso supereficiente agronegócio, o valor nominal da balança comercial deve reduzir.

    O lado bom ou ruim, dependente de como se enxerga, é que o Brasil ficou barato para os estrangeiros. Abriu-se grandes oportunidades para a compra de empresas brasileiras e participação em Parcerias Público-Privadas. O atual governo, outrora contra privatizações, está acelerando o processo de venda de ativos sob seu controle para fazer caixa e que, provavelmente, serão consumidos para cobrir despesas.

    As empresas que pretendem sobreviver irão transformar seus negócios e aumentar sua eficiência operacional. Isso, invariavelmente, passa por redução do quadro de funcionários e redução dos salários. Mesmo porque o brasileiro tem baixa produtividade (temos 25% da produtividade dos americanos). Nesse cenário, quem não tem qualificação está fora do mercado.

    Em um pensamento linear, se não temos qualificação vamos treinar. Entretanto, qualificação sem oportunidades não resolve. Em cenários de recessão de econômica existe um grande contingente de trabalhadores altamente qualificados que não encontram trabalho.

    Mantendo esse cenário, em breve mataremos os consumidores. Obviamente, que não no sentindo literal, mas estarão em níveis de consumo de subsistência. Os mais qualificados buscarão oportunidades no exterior ou empreenderão.

    O relatório do banco Credit Suisse de 2015 sobre a riqueza global, mostra que a concentração de renda mundial alcançou níveis tão críticos quanto o do mundo industrializado antes da Primeira Guerra Mundial. Em vários países a limitada recuperação da economia após a crise de 2008 fez com que a riqueza fluísse para os bolsos dos privilegiados, enquanto as classes médias e popular ficaram ainda mais pobres pela estagnação dos salários reais, o aumento do desemprego e o maior endividamento. Comparando em termos mundiais, a “classe média” brasileira é composta pelas camadas A2 (3,6%) e a metade superior da B1 (9,6%). A camada A1 conta com 0,5% da população.

    E agora, o que fazer? Tenho duas sugestões: a primeira, é alugar ou invés de vender; a segunda, é as empresas investirem em programas sociais de empreendedorismo.

    O fato de não ter dinheiro não significa que as pessoas não precisem de algo para atender suas necessidades. Muitas vezes, o uso de um produto comprado é limitado. Veja o exemplo de um carro. Quanto tempo efetivamente você usufrui do investimento de um carro? Provavelmente, fazendo as contas você concluirá que é mais barato e confortável usar o Uber e alugar um carro nos finais de semana do que gastar seu dinheiro comprando um.

    Quase tudo pode ser alugado. A Microsoft agora aluga o Office. A Google aluga espaço em disco para armazenar fotos e documentos. O Uber aluga mobilidade e conforto. Resumindo, alugue o que as pessoas precisam para quem não pode comprar e para quem tem bom senso.

    Na outra ponta, as empresas devem fomentar o aumento de renda dos consumidores. A Igreja Universal do Bispo Edir Macedo descobriu isso há muito tempo. Quanto mais ele motiva as pessoas a melhorarem de vida e aumentar a renda, maior é o dizimo para a Igreja e maior a adesão e manutenção dos fiéis.

    Minha segunda sugestão é o apoio das empresas em programas de empreendedorismo nas comunidades em que ela está presente, incluindo seus funcionários. Isso funciona como ações de Responsabilidade Social que podem ser capitalizadas em seus relatórios de Balanço Social, aumenta a fidelização dos clientes e pode criar novas oportunidades de negócio para a própria empresa.

    A saída da recessão econômica e continuidade dos nossos negócios está nas nossas mãos. A única coisa que precisamos do governo é que ele não atrapalhe.

  • A saída do Brasil é pelo Pacífico

    Uma boa parte dos países banhados pelo oceano Atlântico Sul está enfrentando dificuldades econômicas e sociais. Podemos citar o Brasil, Venezuela, Argentina e Angola na África. Por outro lado, os países banhados pelo oceano Pacífico estão prosperando, como os Estados Unidos, México, Japão e os nossos vizinhos Chile, Peru e Colômbia. A situação dos países do Pacífico deve melhorar ainda mais com o tratado Trans-Pacific que permitirá o livre comércio de cerca de 90% produtos entre eles. Esse tratado comercial envolve 40% da economia mundial e exclui a China. A economia brasileira não pode mais se manter fechada para o resto do mundo, pois a globalização é chave para o crescimento econômico e social dos países. A bonança da commodities acabou, fato que sustentou o crescimento e a distribuição de renda nos últimos 12 anos em vários países. No Brasil, a facilidade do crédito ofuscou a falta de competitividade da indústria nacional e a supervalorização do Real permitiu a importação de produtos, fatores que simplesmente sucatearam nosso parque industrial. Estamos diante de novas escolhas: aguardamos um novo ciclo de bonança das commodities para voltar a crescer ou investimos pesadamente na reconstrução da nossa indústria.Aguardar um novo ciclo de bonança das commodities não é uma escolha aceitável. A recessão econômica no Brasil nos últimos meses já levou mais de 3 milhões de famílias a retroceder na escala econômica. A forte consciência ecológica da sociedade internacional e da responsabilidade socioambiental das empresas faz aumentar a reciclagem de materiais, reduzindo a compra de matéria prima para a manufatura de novos produtos, como o minério de ferro. A diversificação da cadeia de suprimentos da China e seus investimentos em grandes áreas cultiváveis no mundo devem manter as commodities de alimentos nos níveis atuais por um período maior. O impacto da eliminação da lei do filho único só será sentida daqui há muitos anos. O aumento do uso de energia renovável e o gás de xisto para produção de energia deve manter o preço do barril de petróleo baixo, frustando muitos projetos de crescimento apoiados na receita de exportação de petróleo e de captação de investimentos para extração em locais de difícil acesso, como nas camadas do pré-sal.

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  • Métodos tradicionais de pesquisa de mercado estão com os dias contados

    Lembra quando você era abordado na rua ou recebia uma chamada telefônica de uma pesquisadora para um entrevista de opinião? Esse tipo de método está com seus dias contados. A questão é que as pessoas não tem mais tempo ou paciência para responder pesquisas. As que aceitam, provavelmente, respondem sem pensar muito para terminar logo. Essa mudança de comportamento pode alter, significativamente, o resultado de uma pesquisa e, consequentemente, reduzir sua efetividade. Entretanto, os métodos tradicionais estão sendo substituídos pelas análises avançadas de dados das redes sociais através de tecnologias de Big Data, com muito mais efetividade devido ao grande volume de dados analisados e com uma excelente relação custo benefício.As pesquisas de mercado são fundamentais para definir investimentos e criação de novos produtos. Em muitos casos, as pesquisas definem o perfil de vários consumidores e a partir desses perfis são projetados produtos e serviços.

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  • A qual grupo de negócios você pertence?

    O mundo é plano, mas os negócios reais são locais. A globalização impulsionada pela Internet permite que pessoas e empresas façam negócios em qualquer lugar do mundo com facilidade. A simples ideia do contêiner no transporte marítimo reduziu os custos e facilitou a movimentação de cargas. Entretanto, poucas pessoas e empresas têm capacidade de fazer negócios globais, reduzindo o potencial da globalização para pequenas e médias empresas (PME). Como as PMEs que empregam uma significativa parcela dos trabalhadores, os negócios são, efetivamente, locais. No Brasil, existem 6,4 milhões de PMEs e microempreendedores, respondendo por 52% dos empregos com carteira assinada no setor privado, cerca de 16,1 milhões, segundo o SEBRAE. Nesse ambiente, trabalhar isolado, fora de um grupo de negócios, é suicídio. Isso vale não apenas para empresas, mas para os trabalhadores. Historicamente, nações e grupos econômicos só prosperam quando se agruparam em organizações formais ou informais. Neste contexto, a qual grupo de negócios você pertence? (mais…)

  • O Brasil está a caminho do seu melhor momento

    Em menos de 70 anos, a Alemanha e o Japão, destruídos na 2ª guerra mundial, voltaram a ser potências econômicas mundiais. O Japão destruído por um Tsunami em 2011, incluindo o desastre na usina nuclear de Fukushima, conseguiu uma rápida recuperação. Os Estados Unidos foram surpreendidos duas vezes pelos soviéticos na corrida espacial, um pelo lançamento do satélite Sputnik e outra por Yuri Gagarin, o primeiro homem no espaço. A partir da visão de John Kennedy de levar e trazer americanos na lua até o final da década de 60, a economia e a indústria americana teve um crescimento espetacular. Uma coisa comum nessas três situações é que os objetivos nacionais se confundiram com os objetivos pessoais, reconstruir sua casa, seu negócio, sua família, sua empresa, sua dignidade. Isso foi tão forte nos japoneses que até hoje trabalham compulsivamente.

    Quem constrói ou reconstrói o país não é o governo, e sim o seu povo. O que é necessário é um objetivo claro. A reconstrução da Alemanha e Japão e o projeto espacial americano são exemplos de objetivos claros e tangíveis.

    O brasileiro tem dado respostas rápidas nas crises. Quando foi necessário reduzir o consumo de energia e água houve uma rápida mobilização para isso e a adoção de novos hábitos. A famosa criatividade do brasileiro aparece nos momentos de crise, quando ele é pressionado por algo que o faz sair da zona de conforto.

    O mundo se transforma em uma velocidade exponencial e o comportamento das pessoas e as atividades econômicas devem acompanhar essas mudanças. Retarda-las, com protecionismo do Estado, atrasa o desenvolvimento econômico e social da nação.

    Ao longo de 500 anos, os brasileiros mostram passividade aos fatos, com raras exceções. Não houve luta pela independência do Brasil de Portugal. A guerra dos Farrapos, ou Revolução Farroupilha, e a Revolução Constitucionalista de 1932 em São Paulo não mobilizaram a nação por completo. A guerra do Paraguai, onde o Brasil formou um exército com 1,5% da população e gerou um déficit enorme nas contas públicas, apenas ajudou a formar o corporativismo militar, que anos mais tarde proclamou a república e influenciou outros fatos históricos.

    Getúlio Vargas, apesar de ditador, só saiu do governo por pressões externas e retornou anos mais tarde para um mandato eleito por voto popular. Seu governo populista, criando benesses para a população e trabalhadores, como as leis trabalhistas, garantiram sua popularidade. No segundo mandato foi abalado pela corrupção e autoritarismo de pessoas do seu governo, que ele afirmava desconhecer.

    Durante o regime militar no Brasil, vários guerrilheiros com formação em países comunistas, reclamavam que não tiveram apoio da população nos seus conflitos contra o governo e que, frequentemente, eram denunciados pela população. A situação só se alterou, mesmo com as denúncias de tortura, quando a economia naufragou com a crise do petróleo.

    Mesmo com grandes manifestações populares pelas “Diretas Já”, não houve conflitos sociais quando o Congresso, com maioria do governo, não aprovou eleições diretas para presidente. Por sorte, manobras dos congressistas conseguiram eleger um civil da aposição, interrompendo um ciclo de presidentes indicados pelos seus antecessores. Infelizmente, Tancredo Neves faleceu antes de assumir a presidência e o cargo foi passado para o seu vice-presidente José Sarney.

    Durante o governo militar, o país investiu pesadamente em infraestrutura: usinas hidrelétricas (Itaipu, por exemplo), telecomunicações, estradas, portos regionais, etc. Todas essas obras com dinheiro do exterior fez saltar nossa dívida externa. Nossa economia era fechada com reservas de mercado em vários setores, como o automobilístico e informática.  A ideia na época era que a reserva de mercado era necessária para criar qualificação interna para depois competir no mercado externo. Infelizmente, pouco se avançou em tecnologia e em novos modelos de negócios durante esse período. A indústria, beneficiada pela falta de competição externa, não se modernizou e nossa qualificação técnica não prosperou, com algumas raras exceções. Com esse protecionismo perdemos décadas de desenvolvimento.

    Com a eleição de Fernando Collor, em meio a uma das maiores taxas de inflação da história, aplicou um plano de estabilização da economia, congelando a poupança da população, que obrigou as pessoas e empresas a produzir ao invés de viverem com os rendimentos dos lucros e indexação da economia decorrentes da inflação. Com uma indústria pouco competitiva e pessoas não dispostas a produzir, somado a falta de habilidade politica dele e do seu ministério, o plano naufragou. Collor sofreu o impeachment e o seu vice-presidente assumiu.

    Ainda com uma economia fragilizada e, para a alegria de muitos, com uma alta taxa de inflação, Itamar Franco assume e, por sorte, o ministro da fazenda liderou um plano que reduziu a inflação e fez crescer o PIB em 6% em 1994. Fernando Henrique se elegeu e reelegeu com taxas de crescimento da economia entre 2% e 4% durante a maior parte do seu governo, exceção em 1998 e 1999 com taxas próximas de zero.

    Lula assume a presidência da republica em 2002, segue a política econômica de Fernando Henrique, assessorado por um respeitado presidente do Banco Central, com um cenário internacional favorável com altos preços das commodities, descoberta de petróleo na camada do pré-sal e ampliação do programa de distribuição de renda.

    Obviamente, um cenário artificial gerado por uma economia internacional manipulada. Com a erupção da crise econômica de 2008, a fraqueza do plano de expansão da economia através do consumo foi percebida. Para manter apenas uma “marolinha” na economia interna, o governo lança mão de subsídios para a indústria e planos de investimentos em grandes obras, criando um mar de tranquilidade e confiança dos consumidores para o endividamento. Henrique Meirelles deixa a presidência do Banco Central em 2011. Muito dinheiro e pouco controle, corrupção em alta. Dilma Rousseff sucede Lula e mantém o cenário de uma economia irreal apoiada com fortes subsídios e distribuição de benefícios para a população. Se reelege, maquiando dados da economia.

    Para salvar a economia americana Barack Obama interveio na economia e colocou cerca de US$80 bilhões no mercado mensalmente, usando o que se chama em economia de Quantitative Easing, ou flexibilização quantitativa, para ativar a economia. O plano deu certo e o FED começou a reduzir o apoio a economia. O Banco Central Europeu que estava adotando a estratégia de controlar os juros e injetar cerca de €13 bilhões resolveu adotar a mesma estratégia americana e passou a injetar €60 bilhões até 2016 para ativar a economia europeia.

    O “Patinho Feio” da zona do euro é a Grécia, que se recusa a adotar as novas práticas de gestão públicas e econômicas. Enquanto os países da zona do euro faziam ajustes fortes na economia e nos benefícios para os cidadãos, a Grécia insistia em manter um clima artificial na sua economia. Apesar dos gregos terem uma invejável cultura milenar não querem adotar novos hábitos para garantir a solvência do país, parecendo que valorizam mais o individual que o coletivo.

    Finalmente, porque acredito que o Brasil está caminhando para o seu melhor momento?

    Primeiro, temos uma história que nos ensina a não cometer mais erros. Segundo, estamos em uma situação de escassez de recursos, com falta de dinheiro devido a inflação e desemprego gerando baixa confiança na economia, onde a única saída é usar nossa criatividade e começar um novo ciclo de crescimento apoiado no trabalho sem as benesses do governo.

    Como o governo está sem recursos, não adianta ficar esperando socorro. Irá chegar um momento que para não morrer (sentido figurado) as pessoas terão que encontrar outras formas para viver. As empresas sem subsídios terão que investir na modernização do parque industrial, sem ajuda do governo, encontrando outras formas de financiamento, como por exemplo, abrindo o capital na bolsa de valores. O Congresso terá que rever a Constituição de 1988 que centraliza e engessa o orçamento público para atender a população de forma mais democrática e justa. Os jovens que não nunca viveram momentos de crise estão aprendendo que a vida não é um “mar de rosas” e que é preciso trabalhar duro e se qualificar continuamente para ter melhores salários. Os sindicatos devem requalificar seus associados para outras atividades dentro do seu setor de atuação e não lutar com as mudanças.

    O combate dos governos à corrupção está criando um ambiente mais competitivo de negócios. Os países do G-20 colocaram o combate à corrupção no topo das prioridades globais. A China trabalha forte contra a corrupção. A Suíça e Luxemburgo colaboram com os outros países para identificar ações de lavagem de dinheiro. Os Estados Unidos abrem processos internacionais para punir pessoas que lesam investidores americanos. No Brasil, a operação Lava a Jato está punindo corruptos e corruptores da Petrobrás e empreiteiras.

    Enfim, vamos arregaçar as mangas e continuar a trabalhar duro, não esquecendo a educação.