Eduardo M Fagundes

Artigos

Coletânea de artigos técnicos e reflexões de Eduardo M. Fagundes publicados entre 2011 e 2017

Assine a Newsletter no Linkedin

Autor: Eduardo Fagundes

  • Data Centers Modulares

    Um dos desafios dos CIOs é alinhar a capacidade de processamento com as necessidades de negócios. No passado, o planejamento de capacidade dos data centers era definido pelo histórico de crescimento e pelos novos sistemas planejados. Atualmente, a dinâmica dos negócios exige novas estratégias para assegurar os recursos e disponibilidade dos data centers para apoiar o negócio. Uma solução é desenhar data centers modulares.

    Para apoiar os negócios da empresa não basta atender os requisitos de alta disponibilidade, capacidade e baixos custos de investimento e operação. É necessário somar-se a esses requisitos a estratégia de escalabilidade do data center.

    Essa estratégia não é simplesmente comprar mais servidores e expandir a área do data center, incluindo aqui a instalação de um container data center. A estratégia deve garantir o menor tempo de expansão da infraestrutura e sua atualização tecnológica.

    Instalar sistemas de energia e refrigeração superdimensionados prevendo o crescimento não atende ao requisito de atualização tecnológica ao longo do tempo, além de desperdiçar investimentos da empresa.

    A estratégia deve contemplar a expansão de toda a infraestrutura do data center de forma modular. Aqui se inclui a instalação de novos servidores, sistemas de armazenamento de dados e módulos de energia e refrigeração. Uma alternativa é o container data center, outra opção são racks com sistemas de refrigeração dedicados e UPS modulares.

    Aumentar a disponibilidade do data center é outro ponto sensível em relação a custos. Estudos mostram que aumentar a disponibilidade de um data center de 99,982% para 99,995% exige investimentos 39% maiores. Aqui incluem custos de manutenção, redundância da rede de comunicação, geradores de energia adicionais, acumuladores de água para refrigeração e suporte operacional 24×7. Esses custos podem ser reduzidos com o conceito modular, utilização de softwares de configuração de data centers virtuais e softwares de gestão integrada da infraestrutura predial e tecnológica (DCIM – Data Center Infraestructure Management).

    Usar sistemas modulares pode significar um investimento maior no primeiro momento, porém muito menor quando houver a necessidade de um upgrade tecnológico no futuro. A relação pode chegar de 5% para 60%.

    Outra questão é a escolha das tecnologias para o data center. Temos que considerar que o ciclo de vida de um data center é em torno de 20 anos e as despesas, nesse período, ficam entre três e cinco vezes maiores que o investimento inicial. Desta forma, a escolha de uma tecnologia deve considerar os custos de manutenção, incluindo operação, e não apenas o custo inicial do investimento.

    O tempo e as tecnologias quebram muitos paradigmas. A estratégia do novo data center do Facebook foi utilizar equipamentos baratos de fornecedores asiáticos, praticamente, desconhecidos. A evolução e confiabilidade dos componentes eletrônicos tem aumentado consideravelmente, resultando na manufatura de placas eletrônicas mais confiáveis. Associado com as novas possibilidades de gerenciamento de máquinas virtuais, uma falha em um equipamento torna-se quase imperceptível para o negócio.  O uso de softwares open source já se mostrou extremamente eficiente para servidores, agora esse mesmo conceito está sendo implementado em roteadores e switches, quebrando a hegemonia de grandes players do mercado.

    A adoção de uma estratégia modular para data center pode reduzir o TCO – Total Cost Ownership – entre 15 e 25%, comparado com a estratégia tradicional de crescimento dos data centers, segundo alguns estudos. Para atender as necessidades de expansão de curto prazo da capacidade dos data centers, uma opção é o uso de containers data centers e para antigos data centers uma alternativa é o uso de zonas de alta densidade de processamento.

  • Cloud Storage uma solução prática e confiável para arquivamento de dados

    Serviços de armazenagem de dados remoto administrados por uma empresa especializada não é um negócio novo. O primeiro serviço que utilizei foi a digitalização e guarda de notas fiscais de um fornecedor fora da empresa. Lembro que algumas notas fiscais tinham que ser, literalmente, passadas com ferro antes de serem digitalizadas. Depois era atribuído uma identificação para a imagem para ser indexada no sistema para facilitar a recuperação. Esse serviço aumentou significativamente a produtividade da área de contas a pagar, solução de problemas, organização e redução de espaço físico na empresa. Atualmente, as notas fiscais eletrônicas substituíram o papel e parte das informações estão armazenadas nos computadores das secretarias de fazenda dos Estados.

    O desafio atual é como gerenciar os terabytes de informações das empresas. A solução mais simplista é comprar mais storage, com a ilusão que é barato. Esquece-se que o custo de administração dos dados e o risco de perda é alto, sem contar com a necessidade de investimentos (CAPEX) para atualização da infraestrutura tecnológica. Empresas que armazenavam dados em fita magnética em rolo tiveram que migrar os dados para novas mídias para aposentar as antigas leitoras de fitas. Isso sem contar que, alegando questões de segurança, o pessoal operacional costuma utilizar entre 30% e 40% do espaço disponível.

    Com as novas tecnologias de aquisição de dados usando Internet of Things, redes sociais e aplicações móveis o volume de dados tem crescido exponencialmente. Esses dados são utilizados por sistemas Big Data que usam variedade de dados e que requerem velocidade de acesso.

    A gestão do armazenamento de dados deve seguir os princípios do ciclo de vida da informação. Os dados devem ser armazenados em mídias que atendam aos requisitos de desempenho, disponibilidade e recuperação. Obviamente, quanto melhor o desempenho e disponibilidade maior o custo de armazenamento. Desta forma, classificamos os ambientes de armazenado por camadas (Tiers).

    • TIER 0 – Armazenamento em memória flash. Altíssimo desempenho, indicado para aplicações de missão crítica que necessitam de alta qualidade de serviço (QoS – Quality of Services);
    • TIER 1 – Alto desempenho e disponibilidade. Utilização de subsistemas de disco de alto desempenho com a manutenção dos objetivos de QoS;
    • TIER 2 – Médio desempenho e disponibilidade. Indicado para aplicações que não sejam de missão crítica;
    • TIER 3 – Baixo desempenho e disponibilidade. Indicado para aplicações que não sejam de missão crítica e de baixo impacto operacional;
    • TIER 4 – Indicado para arquivamento, longos períodos de retenção e backup.

    Em uma organização podemos assumir que os dados estão distribuídos da seguinte forma:

    • TIER 0: 1 – 5%
    • TIER 1: 15-20%
    • TIER 2: 20-25%
    • TIER 3: 50-60%

    Alguns dados podem migrar de um tier para outro antes de serem arquivados. Por exemplo, dados que são utilizados em transações eletrônicas de missão crítica que requerem QoS de Tier 0, depois podem migrar para Tier 2 para uso em sistemas de análise estatística.

    Uma boa gestão de dados mantém ambientes distintos e administráveis para o armazenamento e movimentação dos dados. São necessárias ferramentas, processos e tecnologias de hardware e software, incluindo: virtualização, serviços de catálogo com políticas de negócios e fluxos automáticos para movimentação de dados.

    O Cloud Services é uma solução simples e prática para arquivamento remoto, retenção e backup de dados. Além da vantagem da redução dos investimentos em sistemas de armazenamento (crescimento e upgrade tecnológico), simplifica a gestão da gestão de dados, permitindo que o pessoal interno foque nos dados que são realmente importantes para a operação da empresa.  Esse serviço já está incluindo no modelo de Cloud Computing.

  • As cidades inteligentes exigem novos modelos de gestão municipal

    Um fenômeno global é a baixa confiança dos cidadãos com seus governos e as finanças públicas sob stress.  Isso resulta em um abismo entre as expectativas dos cidadãos e a capacidade dos governos de identificar e implementar programas para a população. Reforço que o problema atinge vários países, incluindo os Estados Unidos e vários países europeus. No Brasil, esse abismo pode ser maior devido as nossas características culturais e corrupção. Muitos buscam uma resposta dos governos federais, porém a solução está mais próxima do que se pensa, nas prefeituras. Entretanto, os prefeitos devem transformar o modelo tradicional de gestão para atender as novas expectativas dos cidadãos que exigem mais transparência do governo, mobilidade, segurança, saúde, educação e lazer, resultando em melhor qualidade de vida para as pessoas. A proposta é transformar os governos municipais em facilitadores em vez de provedores de soluções, transformando as cidades tradicionais em cidades inteligentes.

    Ainda discutimos se os governos devem assumir o comando da infraestrutura e dos serviços ou se devem deixar para a iniciativa privada ou se os próprios cidadãos devem assumir o controle. Parece que a crise econômica e o baixo crescimento das economias estão forçando uma profunda revisão dos modelos de gestão do governo. Os governos municipais são os mais afetados, pois são eles que interagem diretamente com os cidadãos.

    Mesmo em mundo ideal sem corrupção, as finanças públicas não conseguirão atender as expectativas crescentes dos cidadãos. A solução é os governos assumirem o papel de facilitadores na criação de plataformas de serviços e tecnológicas para serem exploradas pela iniciativa privada. A demora na adoção desse novo modelo de gestão pública traz prejuízos para os cidadãos, empresas e governo.

    Um exemplo é a falta de atuação dos governos municipais na estratégia de redes inteligentes de energia elétrica, o chamado Smart Grid. No Brasil, o modelo de concessões na distribuição de energia permite que as concessionárias definam a tecnologia da infraestrutura de telecomunicações. Desta forma, cada empresa está criando uma infraestrutura própria sem planos de compartilhamento com outros serviços.

    Por outro lado, muitos municípios estão implantando projetos de Internet para escolas, bibliotecas, prédios públicos e para os cidadãos, criando plataformas de telecomunicações próprias. Uma alternativa seria que a prefeitura assumisse o papel de facilitador e definisse uma plataforma comum de telecomunicações para compartilhar com todos os serviços, oferecendo esses serviços para as concessionárias de energia, água e gás. Isso permitiria que os investimentos redundantes fossem canalizados para outros projetos para os cidadãos, além de gerar receita adicional aos cofres municipais.

    Poderíamos pensar que o papel de definir esse modelo de compartilhamento de telecomunicações, no nosso exemplo, seria das agências reguladoras, ANATEL e ANEEL, ou das agências estaduais, no caso de São Paulo, a ARSESP, Agência Reguladora de Saneamento e Energia do Estado de São Paulo. Infelizmente, essas agências estão, provavelmente, com desafios maiores e sem tempo para se dedicar ao assunto. Entretanto, essa falta de definição afeta, diretamente, as prefeituras em suas estratégias de cidades inteligentes.

    Resumindo, acredito que os prefeitos e as câmaras municipais deveriam assumir seu papel de liderança e defesa dos interesses dos cidadãos e definir suas políticas e projetos para transformar suas cidades em cidades inteligentes, transformando o modelo de provedor de serviços para um modelo de facilitador de serviços.

  • Medição inteligente multisserviços de energia, água e gás

    Precisamos adotar novos conceitos de gestão para viabilizar o crescimento da economia brasileira. Continuar usando modelos de gestão e regulamentação de mercado criados no passado já não atendem mais aos desafios dos complexos modelos de negócios globais. A crise energética e hídrica que estamos atravessando deve ser o gatilho para uma profunda revisão dos modelos de negócios e normas regulatórias.

    No setor elétrico, os desafios são aumentar a capacidade de geração de energia, diversificar a matriz energética e adotar medidas para o controle da demanda. O aumento da capacidade de geração e diversificação da matriz energética exige planejamento, capital intensivo, avaliação de impactos ambientais e capacidade de execução. O controle da demanda exige a adoção de equipamentos mais eficientes, conscientização dos consumidores e uma tecnologia de medição inteligente (smart metering). O crescimento da autoprodução de energia pelos consumidores e seu acoplamento nas redes de distribuição de energia adicionará uma maior complexidade na medição. Neste contexto, devemos incluir o uso de gás natural na geração de energia e a substituição alguns equipamentos que utilizam eletricidade e nos meios de transporte.

    No abastecimento de água, os desafios são aumentar os reservatórios que abastecem as cidades, ampliar a capacidade de tratamento de água, aumentar o reuso e evitar o desperdício de água. As ações necessárias são análogas ao do setor elétrico, incluindo a melhoria do controle da demanda.

    A solução é adoção em larga escala de redes inteligentes no setor elétrico e sistemas de monitoração e controles mais inteligentes na distribuição de gás e água.

    Apesar dos enormes benefícios das redes inteligentes (Smart Grid), tanto para os usuários como para as concessionárias, os projetos avançam de forma tímida. Os medidores analógicos de energia não permitem a gestão da demanda pelos usuários e exigem a presença física do pessoal das concessionárias para cortes e religações. Os métodos analógicos de medição de consumo de água não são precisos e a falta de gestão remota dificulta o ajuste da pressão nas tubulações, podendo gerar rompimento dos tubos ou falta de água para os consumidores. A falta de inteligência dos pontos de consumo de gás podem resultar em risco de vida e aumenta o custo de manutenção do serviço.

    Os altos custos de implantação e o tempo de retorno dos investidores inibem o avanço rápido dos projetos de redes inteligentes. Como o mercado de energia, água e gás são regulados, onde as agências reguladoras monitoram investimentos e despesas para definir as tarifas dos serviços, os projetos, na maioria das vezes, não se viabilizam.

    Uma solução seria a adoção do conceito de multi-utilities, ou seja, um fornecedor passaria a oferecer vários serviços (energia, gás, água, etc.), obtendo sinergia na utilização de equipamentos, sistemas de monitoração e controle, e pessoal.

    Infelizmente, o modelo de concessões adotado no Brasil não permite que uma concessionária opere mais de um serviço.

    Entretanto, nada impede que várias concessionárias adotem uma infraestrutura única de medição de energia, água e gás – smart metering.  O resultado seria a melhoria dos serviços aos usuários, redução de custos de implantação e operação da infraestrutura de monitoração e controle e a viabilização de projetos de redes inteligentes.

    Os benefícios do smart metering através de uma empresa de serviços são muitos:

    • Automação da medição de vários serviços;
    • Aumento de receita das concessionárias pela melhoria da medição;
    • Aumento da satisfação dos usuários;
    • Aumento da receita das concessionárias pela introdução de novos serviços inteligentes;
    • Substituição de investimentos (CAPEX) por despesas (OPEX);
    • Comando remoto para corte e religa sem a necessidade de equipes de campo;
    • Integração dos serviços de medição com os sistemas de informação das concessionárias;
    • Possibilidade de regionalização dos serviços de medição de uma mesma concessionária, reduzindo os riscos de grandes e complexos sistemas e investimentos;
    • Descentralização dos investimentos (CAPEX) entre vários fornecedores de serviço de medição para aquisição de equipamentos e sistemas, mitigando o risco de um único fornecedor;
    • Compartilhamento da infraestrutura de medição (equipamentos de multi-medição, redes de comunicações, sistemas de informação, pessoal técnicos, etc.) com vários serviços;
    • Redução de custo dos serviços de medição devido ao compartilhamento da infraestrutura;
    • Abertura de oportunidades para pequenos fornecedores de serviços de medição em regiões de pequena densidade populacional;
    • Aceleração do desenvolvimento do mercado de equipamentos, software e consultoria de Smart Grid;
    • Criação de novos empregos especializados;
    • Redução da quantidade de chamadas nos serviços de atendimento ao consumidor;
    • Aumento de oportunidades de negócios para os fornecedores de serviços pela possibilidade de regionalização dos serviços;

    Um modelo de negócios de medição multisserviços é viável. Participei ativamente no projeto da ANFAVEA, Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores, na implantação do EDI (Electronic Data Exchange) para fornecedores, envolvendo a colaboração de todas as montadoras do país. Em 2000, estive envolvido nas operações da Covisint, uma empresa de B2B criada pela Ford Motor Co., General Motors, e DaimlerChrysler, para comprar em conjunto autopeças no mercado americano e internacional. A criação da Covisint teve o desafio de reunir fortes concorrentes do setor automobilístico, entretanto, se viabilizou pela necessidade de redução de custos para enfrentar a competição internacional.

    O desafio da Covisint não se aplica as concessionárias no Brasil, pois o regime de concessão garante a reserva de mercado. A questão é quem começa. Existe pouca interação entre as atuais concessionárias de serviços. A relação mais próxima é como fornecedor e usuário entre eles ou, em poucos casos, em projetos municipais que exigem a coordenação de obras de várias concessionárias.

    Uma opção é o governo tomar a iniciativa de convidar as concessionárias para uma discussão sobre o modelo de negócio e criar condições para viabilizar o negócio. Ou, as próprias concessionárias tomarem a iniciativa. Ou ainda, um grande fornecedor se estruturar para oferecer o serviço. Essa última opção, talvez seja a mais fácil, pois existem empresas multinacionais que já executam serviços similares em outros países.

    Coloco a disposição um fórum virtual de discussão no Efagundes.com para ampliar essa discussão e buscar formas de viabilizar essa iniciativa.

  • Iluminação Pública a porta de entrada para uma cidade inteligente

    A partir de 2015 todas as prefeituras assumirão os ativos e serviços de iluminação pública de seus municípios. Na maioria dos casos, as prefeituras contratavam esse serviço das concessionárias de distribuição de energia da sua região que incluía os ativos e atendimento ao cidadão. Cada domicilio com uma ligação de energia paga na conta de luz uma Contribuição para Custeio da Iluminação Pública (Cosip), que varia de município para município, determinada pela Câmara de Vereadores. A delegação para a concessionária de energia operar o serviço de iluminação necessitava de um decreto de lei municipal. Atualmente, existem mais de 15 milhões de pontos de iluminação pública no Brasil.

    Existem, basicamente, duas estratégias das prefeituras para operar o serviço: criar um departamento próprio ou estabelecer uma parceria público privada (PPP). Algumas prefeituras estão criando consórcios públicos para operar o serviço em conjunto. As licitações para a formação das PPPs preveem a substituição das lâmpadas tradicionais por iluminação LED, de forma gradativa. Algumas licitações, como a do município de São Paulo, preveem a remuneração do serviço por luminária acessa com um sistema de monitoração integrado ao Centro de Controle Operacional.

    Entretanto, pelo que tenho acompanhado, as prefeituras estão focando apenas no serviço de iluminação pública, deixando escapar a oportunidade de iniciar um projeto mais abrangente de cidade inteligente.

    Os postes de iluminação púbica estão presentes na maioria das concentrações habitacionais e comerciais. Eles são altos e possuem, obviamente, energia. Se tornássemos cada poste de iluminação em um poste inteligente levaríamos muito mais serviços para a população, dentro do conceito de cidades inteligentes.

    Com a tecnologia de Internet of Things é possível, via Internet, monitorar e controlar vários dispositivos remotos instalados nos postes inteligentes. Poderíamos por exemplo:

    • Variar a intensidade da iluminação por faixa de horário ou por detecção de movimento, reduzindo o consumo de energia;
    • Instalar câmeras de monitoração que inibiriam assaltos e ajudariam a identificar os assaltantes, além de identificar veículos estacionados em locais proibidos e outras infrações;
    • Instalar radares de controle de velocidade;
    • Aproveitar os pontos de telecomunicações para oferecer Internet gratuita para os cidadãos;
    • Identificar locais de estacionamento vagos para auxiliar os motoristas via aplicativo móvel, reduzindo o tempo de busca e economizando combustível;
    • Identificar acidentes de trânsito ou incêndios em casas ou em terrenos baldios;
    • Usar o sistema de telecomunicações dos postes para apoiar os serviços de medição e controle de fornecimento de água e eletricidade (Smart Grid).

    Todos esses serviços reduziriam, significativamente, a necessidade de funcionários em campo, aumentando a eficiência dos serviços aos cidadãos através da automação de processos. Todas essas informações seriam concentradas no Centro de Controle Operacional do município, aumentando a sinergia entre os órgãos de segurança municipal e estadual, entre as concessionárias de serviços público e departamentos de trânsito.

    Um projeto integrado de cidade inteligente reduz a emissão de gases do efeito estufa e aumenta a eficiência energética do município, sendo parte integrante do Plano Municipal de Mudanças Climáticas que tem financiamento e suporte do governo federal.

  • Serviços Compartilhados, uma cultura de colaboração

    Um mapa de processos organizacionais identifica atividades redundantes e permite a criação de serviços compartilhados, com redução de custos e melhoria de qualidade. Defino serviços compartilhados (Shared Services) como a colaboração entre partes de uma organização para a prestação de um serviço que garanta a entrega de resultados com base em métricas definidas (KPIs, custo, qualidade, etc.). Por essa definição, serviços compartilhados é diferente de terceirização (outsourcing), onde a empresa paga para a execução de uma determinada atividade. Em grandes corporações é comum a criação de uma unidade de negócios autônoma. Em organizações pequenas e médias, é possível definir grupos internos com mais afinidade com um determinado serviço para executar tarefas para outras unidades. Serviços compartilhados típicos: TI, contabilidade, suprimentos, transportes, recursos humanos, jurídico, segurança patrimonial e outros. Entretanto, alguns serviços compartilhados não são recomendados para unidades de negócios pequenas dentro de uma grande corporação, principalmente startups.

    A primeira ideia que temos sobre serviços compartilhados é redução de custos, através da padronização de processos e ganhos em escala. De acordo com o Instituto Inglês de Contadores, mais de 30% das empresas da Fortune 500 relataram reduções de custos gerais de até 46%. Posso atestar essas economias nos projetos que participei na Ford e AES Corp.

    A experiência me mostrou que temos que olhar os serviços compartilhados sob outra ótica, a da colaboração. Aprendi que o sucesso de um shared services está na capacidade da transformação cultural da organização para a colaboração. A execução dos serviços deve ser ajustada as necessidades das áreas de negócios, sob o risco do impacto operacional neutralizar ou tornar o processo mais caro que o original, principalmente naqueles processos que envolvem a satisfação dos clientes finais.

    O objetivo é definir processos padronizados e medidos que possam ser repetidos em várias áreas de negócios. O desafio é a colaboração para o consenso entre as partes. Nessas situações a flexibilidade e o comprometimento com o sucesso da organização devem ser maiores que as posições pessoais dos atores.

    Dentro dessa visão de colaboração, temos que repensar a contratação de serviços terceirizados, o outsourcing. Defendo que o outsourcing deve ser encarado como uma joint-venture de serviços entre as empresas. Compartilhar as estratégias corporativas e manter um canal de diálogo com fornecedor para melhoria dos processos é fundamental para aumentar a eficiência operacional e reduzir ainda mais os custos.

    Vejo uma exceção no uso de serviços compartilhados, o uso de processos de uma grande corporação em pequenas unidades de negócios. Por exemplo, usar a complexa contabilidade de uma grande organização em uma startup. Ou ainda, um ERP sofisticado para gerenciar os processos de um pequeno negócio da empresa. Mesmo que a organização subsidie os custos, o peso da sofisticação dos processos irá sufocar a pequena organização e aniquila-la em pouco tempo. Defendo que as pequenas organizações devam ter suas próprias estrutura até atingirem um nível de desenvolvimento que permita o uso de serviços compartilhados.

    Acredito que uma organização está preparada para usar serviços compartilhados quando ela atingiu um nível de maturidade onde exista forte colaboração entre suas unidades de negócios.

  • O combate a corrupção depende de uma boa gestão

    Na última reunião do G20, grupo de países que representam 85% da economia mundial, em novembro de 2014, colocou o combate a corrupção no topo da lista de 10 prioridades internacionais. O suborno é um dos maiores riscos para a sustentabilidade dos negócios das empresas e governos. Estima-se em US$1 trilhão (3% do PIB mundial) os pagamentos anuais com suborno. O Reino Unido implantou uma norma (BS 10500), em Julho de 2011, para auxiliar as empresas e governo a implantar boas práticas de combate a corrupção. Essa norma deverá ser a base da ISO 37.001, atualmente em discussão. A exemplo da ISO 9.000 e ISO 14.000, as normas definem processos para melhorar o controle e qualidade. Entretanto, o grande desafio é a implementação e a gestão eficaz desses processos que dependem, fundamentalmente, da ética e capacidade de execução dos gestores.

    Uma pesquisa da Transparência Internacional (TI) com 3.000 executivos, mostra que 27% dos entrevistados perderam negócios em função de suborno dos concorrentes. Apesar do número crescente de processos contra empresas e pessoas físicas o suborno de funcionários públicos continua a ser uma prática comum no mundo inteiro. Segundo o relatório da TI, os governos mais corruptos estão na Ásia, América Latina e Oriente Médio.

    Os maiores danos da corrupção para os cidadãos são:

    • Redução do crescimento econômico
    • Desencorajamento dos investimentos
    • Marginalização e restrições no comércio internacional
    • Restrições de ajuda econômica de outros países e organismos internacionais
    • Aumento da carga econômica para os pobres
    • Diminuição da qualidade de vida das pessoas

    A questão que coloco para refletir é a efetividade de uma norma anticorrupção. Estive envolvido em pelo menos dois grandes projetos de certificação de empresas na Sarbanes-Oxley (SOX), lei americana que define controles e responsabilidades para gestores e contadores, após os escândalos financeiros da Enron e Worldcom. O esforço de conformidade para a SOX pelas empresas listadas nas bolsas de valores americanas foi bilionário. Ainda hoje, por força da SOX, existem procedimentos de controles rígidos e frequentemente auditados. Infelizmente, todo o investimento e controle não impedem ações fraudulentas e corrupção, como o caso do escândalo da Petrobrás, que é listada na Bolsa de Nova York.

    A certificação de uma norma, pode no máximo, comprovar que uma empresa definiu processos e controles em conformidade com a proposta da norma, porém não consegue garantir que os resultados sejam atingidos, pois isso depende dos gestores. Isso só será avaliado ao final de uma auditoria que demonstre o comprometimento da alta direção, a ética e a capacidade de execução dos gestores. Nada, entretanto, garante que não existirá um deslize no próximo período.

    Outro desafio é a adoção de um padrão de métricas objetivas para avaliar as empresas. Corrupção é corrupção, independente dos valores de pagamentos ou do tipo de suborno. A implementação de um programa anticorrupção deve ter bases qualitativas a partir de análises de risco. Desta forma, conseguiremos avaliar a predisposição e as vulnerabilidades de um projeto ou processo para a corrupção.

    Empresas que respondem, voluntariamente, ao GRI – Global Reporting Initiative – devem incluir suas ações contra corrupção, fraudes, extorsão, conluio, conflitos de interesses e lavagem de dinheiro. O relatório sugere a adoção de métricas quantitativas, como por exemplo, o número de processos contra a empresa sobre corrupção. Entretanto, isso não avalia, eficazmente, o comportamento da empresa sobre a corrupção.

    Um ponto polêmico é sobre as punições às empresas que praticam corrupção. Uma pesada multa e a devolução do dinheiro pago aos corruptos é uma forma de reduzir a corrupção. Embora, sempre haverá corruptos e corruptores que assumirão o risco de um processo fraudulento.

    Acredito que a melhor forma de combater a corrupção é contratar pessoas éticas, investir em treinamento sobre normas de conduta, implantar processos e controles que reduzam os riscos de corrupção e ter tolerância zero para desvios de funcionários.

  • Autoprodução e Mercado Livre de Energia uma estratégia de continuidade de negócios

    Imagine investir R$1,4 bilhões em uma nova fábrica e deixar de operar por falta de energia. Ainda, como enfrentar o desafio de reduzir as emissões de gases de efeito estufa diminuindo custos e aumentando a produtividade. A solução da Holcim, multinacional do setor de cimentos, foi contratar 55MW médios por R$700 milhões até 2022 da CEMIG no mercado livre para sua nova planta em Barroso em Minas Gerais. Já a Honda decidiu investir R$100 milhões em geração eólica de 95MW/ano no litoral do Rio Grande Sul para abastecer sua fábrica em Sumaré em São Paulo, deixando de emitir 2.2 milhões de toneladas de CO2 (redução de 30% das emissões) e reduzindo entre 40-45% dos gastos em energia. A Volkswagen, usando uma Pequena Central Hidrelétrica (PCH) está suprindo 18% da sua demanda de energia. Esses fatos seguem os visionários fundadores da Votorantim que implantaram usinas de geração de energia para consumo próprio desde sua fundação em 1918. Não há dúvidas que a autoprodução e compra de energia no mercado livre é uma excelente alternativa para garantir as operações das fábricas com redução de impactos no meio ambiente. Os projetos garantem energia no curto prazo e retorno do investimento no longo prazo.

    As mudanças climáticas que o Brasil está experimentando coloca em discussão nossa matriz energética. Durante anos focamos na exploração dos nossos recursos hídricos e usinas operadas por combustíveis fósseis (óleo e gás). O uso de energia alternativa era inviabilizado por questões econômicas. Entretanto, com a mudança do cenário de geração e algumas decisões equivocadas da política energética as empresas devem assumir uma postura mais proativa para garantir a continuidade de seus negócios.

    O mercado livre de energia sofreu um revés no final de 2013 com um malfadado decreto lei que forçou a revisão dos contratos de fornecimento de energia no país. Esse decreto lei gerou um desequilíbrio nas contas das distribuidoras, pressionou o aumento dos preços de energia e criou uma percepção de insegurança jurídica de contratos no país. A estiagem que acometeu as regiões Sul e Sudeste forçou o uso das termelétricas, mais cara que as hidrelétricas. Esses fatos, colocaram o país em uma séria crise energética.

    O governo afirma que serão necessários investimentos de 2,6% do PIB para atender a demanda de consumo de energia até 2020. Essa expansão será apoiada por usinas hidrelétricas, eólicas e biomassa, que é o uso de matéria orgânica na geração de energia.

    Como foi anunciado pelo futuro ministro da fazenda, Joaquim Levy, o Brasil fará um esforço para criar superávit nas contas públicas. As previsões são de forte controle nos próximos dois anos, ou seja, até 2016. Provavelmente, as ações serão a eliminação ou redução dos incentivos à indústria, aumento das taxas de juros e aumento de impostos. Isso forçará ações internas de redução de custos das empresas.

    A queda do preço internacional do barril do petróleo em 30%, comercializado em torno de US$70, tem um lado positivo e outro negativo. Com a autossuficiência de petróleo dos Estados Unidos com a produção de energia a partir do gás de xisto, o preço cairá ainda mais.  O lado positivo é que, em teoria, o preço de geração de energia por termelétrica deve reduzir, viabilizando a construção de novas usinas poluidoras movidas a óleo. O lado negativo, além de ser energia suja, é que a Petrobrás, empresa com a maior dívida do planeta, não poderá reduzir o preço interno do petróleo sob o risco de insolvência e de perda da capacidade de investimento no pré-sal. Isso sem comentar as potenciais multas e indenizações a investidores internacionais, pelo menos, dos escândalos de corrupção que estão sob investigação.

    O Brasil deve enfrentar outro desafio importante para a sua economia que é a queda de 10-30% dos preços médios das commodities de minério de ferro, soja e farelo de soja que representam quase 30% do total exportado pelo país, devido a superoferta internacional. Somado a isso, é prevista a saída de investidores de mercado futuro de matérias-primas em busca de outros ativos, como os dos títulos públicos dos Estado Unidos. Isso deve impactar diretamente nossa balança comercial, reduzindo nossa capacidade de investimento.

    Esse cenário econômico e a previsão de crescimento oficial de 0,8% da economia brasileira para 2015, pode reduzir a capacidade de atrair investimentos para a construção de novas usinas geradoras de energia. Como evidência a essa afirmação, foi o fato que no último leilão de energia, realizado no dia 5/11 de energia existente, foram comercializados apenas lotes de 3 anos e nenhum lote de 5 anos, com o preço médio de R$197,09 por MWh, praticamente sem deságio. Esse fato, provavelmente, está associado as incertezas do futuro da economia e política do país, incluindo a falta de transparência dos números oficiais e insegurança jurídica dos contratos.

    Nesse cenário de incertezas, a melhor forma de garantir o fornecimento de energia para as operações atuais e projetos futuros de expansão das empresas é a autoprodução ou compra de energia no mercado livre. As empresas devem considerar um eventual sobrepreço no custo da energia como um seguro para garantir a continuidade de seus negócios e como uma ação para reduzir as emissões de gases de efeito estufa.

    Estou coordenando um grupo de usuários (GU) na SUCESU-SP, associação de usuários corporativos de TI, para discutir e apoiar a autoprodução e compra de energia no mercado para data centers, responsáveis por um grande consumo de energia nas empresas e emissor de gases do efeito estufa.

    Veja mais detalhes em http://efagundes.com/inovacao/index.php/sustentabilidade/