A estratégia de TI deve ser responsabilidade do Conselho de Administração

Segundo as melhores práticas de governança corporativa, o Conselho de Administração tem a responsabilidade de desenvolver a estratégia corporativa, entregar para a diretoria executiva eleita e acompanhar a sua execução, a partir de indicadores de desempenho da diretoria executiva, relatórios de auditorias internas e externas e dos comitês de fiscalização. Dentro deste contexto, a estratégia de TI deve ser desenvolvida pelo Conselho de Administração e entregue para a diretoria executar. Esta visão mais holística de TI, cobrindo os processos fim-a-fim nas organizações, já está presente nos frameworks de governança de TI, como Cobit 5 e o ITIL 4.0. Acompanhando a transformação digital das organizações, surge a figura do Conselheiro de Tecnologia da Informação, com a responsabilidade de desenvolver, compartilhar conhecimento e aprovar a estratégia de TI no Conselho de Administração, além de acompanhar o desempenho da execução da estratégia, garantir o Compliance e a segurança cibernética.

Os Conselhos de Administração são obrigatórios por lei para as companhias de capital aberto, instituições financeiras e seguradoras. Sua adoção é recomendável para as empresas de capital fechado (Ltda e S/A), independente do seu porte e controle acionário, abrindo oportunidades para melhoria de desempenho e aumento de valor no mercado no longo prazo. Isto vale, também, para as empresas familiares que buscam a profissionalização da governança e gestão.

A forma de composição depende de aspectos específicos de cada empresa, mas é indicado manter no mínimo 5 e no máximo 11 conselheiros, sempre um número ímpar, com participação de até 2 anos cada um. Os conselheiros podem ser:

  • Conselheiros internos: possuem algum vínculo com a sociedade, podendo ser sócios, diretores, colaboradores;
  • Conselheiros externos: sem vínculo atual comercial com a sociedade, empregatício ou de direção, mas que não são também independentes. São, por exemplo, ex-diretores, advogados e consultores que prestam serviços à sociedade;
  • Conselheiros independentes: são conselheiros externos que não possuem quaisquer relações familiares, de negócio, ou de qualquer outro tipo com sócios com participação relevante, grupos controladores, executivos, prestadores de serviços ou entidades sem fins lucrativos que influenciem ou possam influenciar, de forma significativa, seus julgamentos, opiniões, decisões ou comprometer suas ações no melhor interesse da organização..

A adoção da governança corporativa implica na adesão de seus princípios fundamentais:

  • Transparência: mais do que a obrigação, é o desejo de informar.
  • Equidade: respeito aos direitos de todas as partes interessadas.
  • Prestação de Contas: responsabilidade integral pelos atos praticados.
  • Responsabilidade corporativa: visão de longo prazo, com considerações de ordem econômica, social e ambiental, para assegurar a perenidade das organizações.

As principais responsabilidades do Conselho de Administração são:

  1. Discussão, aprovação e monitoramento de decisões envolvendo:
  2. Estratégia;
  3. Política de Recursos Humanos;
  4. Apetite e tolerância ao risco (gestão de riscos);
  5. Estrutura de Capital;
  6. Sistema de controles internos;
  7. Escolha da Auditoria Independente.
  8. Aprovar e seguir as Práticas de Governança, Código de Conduta, Relação com partes Interessadas;
  9. Contratação / Dispensa do Executivo Principal;
  10. Acompanhamento e monitoramento dos resultados e atos da Diretoria Executiva;
  11. Prevenir e administrar conflitos de interesse: prestar contas aos sócios e administrar divergência de opiniões.

Como podemos ver, a extremamente alta a responsabilidade do Conselho de Administração. Se os conselheiros de administração não tiverem competências essenciais para o desenvolvimento de uma estratégia eficaz, o futuro da empresa estará comprometido, podendo chegar até a sua extinção.

As novas exigências do mercado e sua sofisticação com a utilização intensiva de tecnologia, incluindo sistemas de inteligência artificial para auxiliar nas tomadas de decisão, têm exigido as empresas a rever e transformar seus modelos de negócios, desafiando os conselhos de administração e a diretoria executiva a buscar a transformação digital nos seus negócios.

Neste contexto, é fundamental que a composição do Conselho de Administração tenha conselheiros eleitos que dominem as questões de tecnologia e segurança da informação. Este conselheiro, além das competências técnicas, deve ter uma visão aguçada para novos negócios e capacidade de estruturar estratégias para a transformação digital da empresa.

A transferência da responsabilidade da estratégia de TI para o conselho de Administração gera transformações consideráveis no atual processo de tomada de decisão das empresas. O atual CIO (Chief Information Office) será eleito ou contratado pela sua capacidade de implementar a estratégia definida pelo Conselho e será avaliado pelas metas alcançadas associadas, diretamente, a estratégia aprovada pelo Conselho.

Este modelo de governança corporativa está, totalmente, alinhado com os modelos de governança de TI que exige que os projetos e processos de TI estejam em conformidade com o planejamento estratégico de negócios da empresa. Neste modelo, o alinhamento é natural, uma vez que é o próprio Conselho de Administração que elabora e aprova a estratégia de TI como parte da estratégia corporativa.

As principais vantagens de o Conselho de Administração desenvolver a estratégia de TI:

  • As definições estratégicas de TI e sua aprovação estão dentro do contexto do Conselho de Administração;
  • As prioridades de TI são definidas com alinhamento estratégico pelos conselheiros, eliminando a necessidade do Comitê de TI composto, tipicamente, por representantes operacionais da empresa;
  • Redução dos níveis de tomada de decisão e aprovação de projetos de TI;
  • Alocação de CAPEX para projetos de TI compatível com a estratégia corporativa, definida pelo Conselho de Administração;
  • O CIO e os gerentes de TI focam nas questões táticas e operacionais para a implementação da estratégia e atingimento dos níveis de serviços exigidos para a operação do negócio;
  • Os conselheiros trazem experiências externas para desenvolver a estratégia de TI, garantindo o rápido alinhamento com o mercado e maior competitividade da empresa;
  • Com visão holística ampliada, os conselheiros tomam melhores decisões estratégicas de TI;
  • Os conselheiros podem optar pelo uso de novos serviços e startups para novos projetos de TI sem enfrentarem a resistência à mudança da área de TI;
  • Os conselheiros, como elo de contato direto com os sócios, podem implementar mudanças mais rápidas e alinhadas com a expectativa dos sócios na área de TI.

Este modelo cria oportunidades para os atuais CIOs com visão de negócios, podendo integrar os Conselhos de Administração como conselheiro de tecnologia da informação.

Em tempos de mudanças disruptivas, agilidade para mudanças estratégicas são fundamentais para garantir a competitividade e tornar as empresas à prova de futuro. O desenvolvimento da estratégia de TI pelo Conselho de Administração é o caminho mais rápido para a transformação digital das organizações.