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Tech & Energy Think Tank

Think tank independente com foco em energia, tecnologia e tendências globais. Análises para apoiar decisões estratégicas com visão de impacto.

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Autor: Eduardo Fagundes

  • Social Manufacturing: a inovação disruptiva na indústria

    O modelo colaborativo de desenvolvimento de produtos e manufatura não é novidade. As montadoras de automóveis e aviões praticam isso há décadas. A novidade é que as sofisticadas ferramentas de desenvolvimento estão disponíveis na Internet, no modelo de SaaS (Software as a Service) no ambiente de computação em nuvem. Isso permite que um empreendedor com o seu notebook possa desenvolver um produto, fazer um protótipo rápido através de uma impressora 3D, negociar componentes e preços com fornecedores online, contratar a produção, vender e distribuir seu produto para seus clientes que compraram através da Internet. O social manufacturing é democratização da indústria, uma inovação disruptiva na indústria.

    Os processos de manufatura vêm evoluindo desde a época de Henry Ford. Passaram pela automação, a migração das fábricas para a Ásia e a digitalização.

    A automação das fábricas com a introdução maciça de robôs reduziu o tempo de produção e qualidade dos produtos e trouxe mais segurança para os operários. A fábrica da Ford em Camaçari produz um carro a cada 84 segundos. Existem fábricas de automóveis na Europa que trabalham com as luzes apagadas.

    Apesar de todo o processo de automação das fábricas, o baixo custo da hora/homem e outros aspectos econômicos na China, Índia e outros países asiáticos tornaram os custos de produção extremamente atraentes a ponto que as fábricas americanas e europeias transferem suas produções para esses países. Algumas empresas brasileiras também seguiram o mesmo caminho. A Ortopé do Rio Grande do Sul transferiu sua fábrica para a Índia para produzir para o mercado brasileiro. Esse movimento gerou desemprego nos países ocidentais.

    A situação está mudando, o valor da hora/homem na China está crescendo e algumas restrições de infraestrutura e distribuição estão tornando a produção mais cara. O presidente americano Barack Obama está incentivando as empresas trazerem suas produções de volta. Já se observa o retorno de algumas fábricas, talvez não pelo pedido do presidente, mas por um novo movimento da manufatura, a necessidade de estar perto do cliente para produzir produtos customizados.

    Provavelmente, a produção em massa continue na Ásia. Ao longo dos últimos anos foram criadas condições para produção em larga escala. Por exemplo, a Foxconn emprega 1,2 milhão de funcionários que fabricam os principais equipamentos de consumo do mundo, tais como iPad, iPhone, Kindle, PlayStation 3, Wii e Xbos 360. Os empregados trabalham em condições severas a ponto de em 2010 acontecer várias tentativas de suicídios com 14 mortes. Para criar melhores condições, os salários dos empregados foram aumentados para US$298.9 por mês.

    A produção customizada tem escala menor e exige processos diferenciados de produção. Essa característica traz a necessidade de localizar a produção próxima dos consumidores, minimizando custos de logísticas e produção em menor escala.

    A digitalização no desenvolvimento e na manufatura reduz o tempo de lançamento de produtos. Do design a distribuição, a digitalização melhorou os processos. Os novos modelos de computação em nuvem e novos serviços disruptivos com custo baixo e funcionalidades suficientes para o desenvolvimento de produtos alavacam novas inovações disruptivas em escala exponencial. Uma dessas inovações é o social manufacturing, modelo de negócio que permite pequenos empreendedores desenvolver novos produtos com simplicidade e custo baixo. Além das impressoras 3D, que a partir de um bloco esculpem praticamente qualquer peça a partir de projetos desenvolvidos com software disponíveis na nuvem, outros serviços que tem serviços online podem ser contratados para a criação de uma empresa totalmente digital.

    Para viabilizar uma operação de social manufacturing é necessário um ambiente colaborativo com empresas especializadas em várias áreas: engenharia; componentes; produção; vendas; distribuição; e, relacionamento com clientes. Essas empresas devem possuir serviços online que possam ser integrados a outros serviços da cadeia produtiva.

    Esse modelo cria excelentes oportunidades para o desenvolvimento de novos serviços disruptivos nas empresas, quebrando os paradigmas da produção convencional.

    Assista o vídeo com Paul Markillie, editor de inovação da revista The Economist.

  • A Globalização Revisada

    Orquestrar a inovação e o desenvolvimento de novos mercados são fatores críticos de sucesso para as empresas nos dias atuais. Já foi a época em que as empresas globais desenvolviam produtos de forma centralizada e os distribuíam para o mercado internacional. Hoje, o sucesso está em identificar uma inovação em um mercado e usá-la em mercados similares em outras regiões. Muitas inovações desenvolvidas em países emergentes, adequadas à realidade local, estão sendo utilizadas em países desenvolvidos criando novos mercados nesses países.

    O velho ditado brasileiro “se é bom para os Estados Unidos é bom Brasil” já não vale mais. Temos que transformá-lo em “o que é bom para o Brasil é bom para um novo mercado nos Estados Unidos”. Querer competir no exterior com produtos em mercados já estabelecidos é um erro em minha opinião. Devemos buscar mercados similares aos nossos e desenvolver novos mercados nessas regiões. Isso aumentará a produção da nossa indústria e a exportação. Trará uma redução dos custos de produção que poderá desenvolver novos mercados no país.

    O professor Vijay Govindarajan, em seu livro “Reverse Innovation”, descreve o fenômeno que inovações desenvolvidas em países pobres estão sendo adotadas em países ricos criando novos mercados. É errado afirmar que os produtos de mercados emergentes são de baixa qualidade, eles foram desenvolvidos para a realidade local com funcionalidades e custos apropriados. O que se descobriu é que esses produtos podem ser comercializados em países ricos em mercados onde os produtos já estabelecidos não tinham penetração por serem de difícil utilização e caros. Produtos mais simples de operar e mais baratos podem ser utilizados por mais pessoas e com o tempo esses produtos acabam perturbando os mercados já estabelecidos.

    As empresas mais atentas a essas mudanças no mercado global já descentralizaram seus centros de pesquisa e desenvolvimento para criar produtos orientados aos mercados locais e passam a localizar outros mercados de características similares para comercializar esses produtos, orquestrando a distribuição e produção de novos produtos.

    No Brasil, participei do lançamento do Ecosport da Ford, uma SUV de valor mais baixo que as importadas que criou um novo mercado de pessoas que desejavam uma SUV, porém não tinham acesso devido ao de alto custo. O Ecosport teve sucesso no México, Argentina e outros países com mercados similares. A próxima onda no mercado automobilístico será o lançamento no Brasil do carro de US$2.000 indiano. Esse carro deve criar um novo mercado para pessoas com poder aquisitivo similar aos indianos.

    Beth Comstock, vice-presidente da GE, comentou que existem três elementos importantes na pesquisa e desenvolvimento de produtos de forma descentralizada: liderança, recursos e accountability (ser responsável). A GE é famosa por sua capacidade de se reinventar constantemente combinando eficiência e skill. Seus produtos são reorientados para diferentes mercados para atender as expectativas e realidade dos mercados locais.

    Veja a entrevista de Vijay Govindarajan da Dartmouth College e Beth Comstock da GE no evento The Economist’s Ideas Economy: Innovation 2012. Interessante os exemplos das próteses de pernas para elefantes na Tailândia e do fiasco da Kellogg’s na Índia.

  • Uma ciência para construir times de alto desempenho

    Segundo o professor Alex “Sandy” Pentland do MIT a boa comunicação dentro e fora das equipes é o fator chave para o seu desempenho. Ele apontou três elementos chaves que afetam a comunicação nas equipes: energia, engajamento e exploração. Sendo a formação de equipes uma ciência é possível ensinar as pessoas a superarem obstáculos e tornarem as equipes altamente produtivas.

    O professor desenvolveu um badge (crachá) para capturar mais de 100 pontos de dados por minuto sobre o comportamento de comunicação individual, medindo a interação entre as pessoas, o tom de voz, seus diálogos, os gestos, a capacidade para escutar e de interromper e até mesmo os níveis de extroversão e empatia. Esse processo é conhecido como sociometria.

    Comparando os dados individuais dos membros de uma equipe é possível identificar seu padrão de comunicação e avaliar o seu desempenho.  Um dado interessante observado é que o raciocínio e talento individual pouco contribuem para o sucesso do grupo. Isso mostra que para formar uma equipe vencedora além da inteligência e realizações individuais é necessário avaliar seu padrão de comunicação quando elas estiverem reunidas. Isso determinará se a equipe terá sucesso.

    O primeiro fator que afeta a comunicação é a energia na interação entre as pessoas. A forma mais valiosa é comunicação face a face, depois a comunicação por telefone e videoconferência, embora a comunicação fique prejudicada com muitos participantes. A pior forma de comunicação é por e-mail e mensagens de texto.

    O segundo fator é o engajamento das pessoas da equipe, refletindo na distribuição de energia entre os membros da equipe. Se todos os membros tiverem energia relativamente igual, o engajamento será extremamente forte. Quando alguns membros têm muita energia e outros não a equipe não funciona.

    O terceiro fator é a exploração, que é como os membros das equipes se engajam fora de suas equipes, ou seja, é a interação entre membros de diferentes equipes.

    Criar um ambiente para as pessoas se socializarem é extremamente importante. Alguns estudos do professor mostraram que mais de 50% das mudanças positivas nos padrões de comunicação ocorreram em situações sociais. Quando se fala em situações sociais não significa promover eventos sociais, mas sim criar condições dentro ou fora da empresa para as pessoas se comunicarem de maneira informal, como mais lugares para o “cafezinho”.

    Os padrões de comportamento são extremamente importantes em projetos de inovação. A fase inicial do programa de inovação que desenvolvo nas empresas é motivar a plena comunicação e engajamento entre as pessoas e as equipes. (veja http://bit.ly/I5R6r0)

    O professor imagina um cenário onde todos os funcionários de uma empresa passassem a utilizar os badges para capturar informações e a partir de tecnologias de Big Data encontrar os padrões de comunicação da empresa e trabalhar para a sua melhoria.

    Veja a entrevista com o professor Alex “Sandy” Pentland do MIT para a Harvard Business Review.

  • Encontre o sucesso aprendendo com os equívocos

    Para se aprender com os equívocos e criar projetos de sucesso é preciso ariscar. Infelizmente, poucas empresas já estabelecidas e com mercados bem definidos e lucrativos apostam em projetos inovadores que embutem um certo risco. Normalmente, são empresas pouco tolerantes a equívocos. Entretanto, é testando novos produtos e criando práticas de negócios alternativos é que se aprende e se encontra o sucesso.

    Evitei utilizar a palavra erro para não criar confusão com falha. Gosto do conceito de equívoco que diz que é uma decisão, uma ação ou um julgamento que resulta em algo menor que o esperado com as informações que se tinha até aquele momento.

    Quando se trabalha com inovação para mercados pouco conhecidos é difícil prever os resultados. Se adotarmos os mesmos conceitos de sucesso para mercados conhecidos e produtos de inovação de sustentação podemos nos equivocar e abortar projetos de inovação que poderão alcançar o sucesso.

    Por essa razão é importante ter um processo de avaliação diferenciado para projetos inovadores, criando métricas diferentes das estabelecidas pela empresa. Um exemplo típico é a taxa de retorno de um investimento (ROI). Tentar aplicar o ROI para produtos inovadores pode levar a um equívoco, pois poderá não identificar outras oportunidades em novos mercados que possam ser exploradas.

    Algumas empresas criam operações desvinculadas da empresa estabelecida para lançar produtos inovadores, principalmente com tecnologia disruptiva. Existe a terceirização da inovação, empresas que são criadas para desenvolver inovações disruptivas com financiamento de capital de risco, que mais tarde são absorvidas pelas empresas estabelecidas. Alguns financiamentos de risco são realizados pelas empresas já estabelecidas.

    Para se aprender com os equívocos é necessário criar um ambiente diferenciado que reconheça as pessoas que tentam acertar e aprendem com seus equívocos. Para isso é necessário criar novos conceitos de avaliação de resultados.

    Veja a entrevista de Paul J. H. Schoemaker sobre o seu livro “Brilliant Mistake”.