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Tech & Energy Think Tank

Think tank independente com foco em energia, tecnologia e tendências globais. Análises para apoiar decisões estratégicas com visão de impacto.

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Autor: Eduardo Fagundes

  • Como será o trabalho na era das máquinas inteligentes?

    Como será o trabalho na era das máquinas inteligentes?

    Será que os seres humanos se tornarão, economicamente, tão irrelevantes como os cavalos? Neste caso, como ficará nossa autoestima e a organização da nossa sociedade?

    As máquinas e sistemas com inteligência artificial executarão a maioria das formas de trabalho melhor do que as pessoas e a um custo muito menor. Isto devido ao grande avanço do poder computacional, a replicabilidade sem custo do software e o rápido desenvolvimento de sistemas de inteligência artificial.

    Este futuro não virá de forma uniforme. Alguns serão afetados mais cedo que outros. Veremos, como no passado, o deslocamento de trabalhadores para outras atividades.

    As tecnologias de Big Data, IoT (Internet of Things) e Blockchain reduzirão as tarefas físicas de coleta de dados e atividades previsíveis. Os trabalhadores com menores remunerações e baixa formação educacional serão os mais afetados. Os setores de transporte, manufatura, serviços hoteleiros e de alimentação estão na lista dos mais vulneráveis.

    Enfrentaremos o “paradoxo da produtividade” – inovação rápida e baixo crescimento da produtividade – que pode ser explicado pela mudança dos empregos relativamente bem remunerados em setores de crescimento de produtividade rápida por empregos de salários relativamente baixos em setores de baixa produtividade.

    Infelizmente, este cenário sugere o crescimento da desigualdade e baixo crescimento da produtividade média. É provável que vejamos o crescimento das chamadas “atividades-zero”, ou seja, aquelas atividades bem pagas, porém que não contribuem para o bem-estar social, como lobistas, intermediários e advogados tributaristas.

    Os empreendedores digitais podem desfrutar de uma grande quantidade renda explorando as “atividades-zero”.

    Este cenário prospectivo indica que no médio prazo teremos um lento crescimento da produtividade e agravamento da desigualdade. Cenário inconsistente com democracias estáveis, resultando no agravamento da política e abrindo espaço para a plutocracia ou autocracia populista ou uma mistura delas. Se a automação tornar os seres humanos economicamente irrelevantes, os desafios serão ainda mais radicais.

    A sociedade terá que subsidiar os trabalhadores inempregáveis através de serviços públicos de qualidade, principalmente nas áreas de saúde, educação e transporte. Possivelmente, as empresas mais automatizadas terão que pagar mais impostos. As cidades terão que ser muito mais inteligentes para poder beneficiar os cidadãos.

    No longo prazo as pessoas deverão enfrentar ainda mais desafios existenciais, se as máquinas inteligentes permitirem. Como eles irão organizar a sociedade em um mundo com poucas pessoas economicamente produtivas? Embora isto esteja distante, temos que começar a pensar agora. O desafio será grande.

  • O modelo de negócio multicloud ganha força

    O modelo de negócio multicloud ganha força

    Participei do AWS Summit 2018 em São Paulo e foi curioso encontrar stands de seus principais concorrentes, como: Tivit, UOLDiveo, Equinix e Mandic. Curioso, mais inteligente. Se não consegue concorrer, alie-se. O modelo de negócio destas empresas passa a ser multicloud, a deles com o da AWS, Google Cloud, Microsoft, IBM Cloud, Alibaba e outras. Isto abre oportunidades para startups criarem serviços de datacenters virtuais, focando em serviços especializados, como configuração e monitoração. Contratando uma grande quantidade de recursos, e obtendo descontos significativos, podem oferecer serviços para pequenos clientes com preços mais atrativos que os próprios provedores de datacenters.

    Os serviços de Cloud Computing concentraram-se em poucas empresas de datacenters. A AWS, Microsoft e Google representam 55% do mercado de Cloud Computing. No primeiro trimestre de 2018, a AWS ficou com 33%, a Microsoft com 13%, a IBM com 8%, a Google com 6% e o Alibaba com 4%.

    Comparando o primeiro trimestre de 2017 com o de 2018 houve um aumento de 46,8% da receita, de US$11,5 bilhões para US$16,9 bilhões.

    As vantagens do uso de Cloud Computing são claras e dificilmente, hoje, alguém conseguiria uma lista de desvantagens para inviabilizar um projeto corporativo. Uma pesquisa global realizada pela Google em parceria com o MIT SMR Custom Studio, com mais de 500 tomadores de decisão da área TI, apontou que três entre cada quatro entrevistados estão mais confiantes na segurança da nuvem. A pesquisa apontou que 45% acreditam que agilidade, segurança e velocidade são os principais benefícios da nuvem.

    O armazenamento de dados ainda é a maior carga de trabalho na nuvem, principalmente, com a projeção de crescimento de aplicações de Machine Learning e Deep Learning (redes neurais). Quase impossível viabilizar aplicações de IoT (Internet of Things) fora de um ambiente de nuvem.

    A migração de aplicações corporativas on-premises (computadores dentro das empresas) para a nuvem é inevitável. Exceções a algumas aplicações de missão crítica hospedadas em micro datacenters.

    Este movimento cria enormes oportunidades para startups com superespecialistas em áreas especificas e uso intensivo de inteligência artificial para monitoração e controle do ambiente computacional. A exemplo das MVNO (Mobile Virtual Network Operator), onde uma operadora de celular usa a infraestrutura de uma grande operadora para oferecer serviços especializados. Uma MVNO compra grandes volumes minutos e acessos com descontos significativos e revende, com serviços agregados ou não, para pequenos clientes com preços atraentes, repassando parte do desconto conseguido.

    O mesmo pode ocorrer em serviços de Cloud Computing. Um dos possíveis negócios seria criar uma central de controle 24×7 e, essencialmente, vender serviços de configuração, controle e monitoração para as aplicações dos clientes. Este serviço seria mais atrativo utilizando o conceito de multicloud com diferentes provedores. Automaticamente, atenderia o “compliance” de ter diferentes infraestruturas e fornecedores para planos de continuidade de negócios.

    Possivelmente, em futuro breve teremos centenas de provedores de Cloud Computing especializados usando a infraestrutura das três ou quatro maiores provedores de nuvem global. Se destacará quem oferecer o melhor serviço, uma vez que a infraestrutura será cada vez mais robusta e homogênea entre os provedores.

  • Como avaliar a eficiência dos investimentos de TI nas organizações

    Como avaliar a eficiência dos investimentos de TI nas organizações

    Um estudo da IT Mídia com 1000 líderes de TI aponta que, em 2018, 66% projetam crescimento no orçamento de TI, onde 32% afirmam ser superior a 10%. Em 2017, 58% afirmaram que houve aumento no orçamento de TI. Alguns CIOs afirmam que os investimentos estão atrelados aos projetos das áreas de negócios, o que é lógico já que a TI é uma área “enabling” nas organizações. A questão é como avaliar a eficiência dos investimentos de TI nos projetos das empresas.

    No novo cenário da economia, tomar riscos calculados é uma das características dos líderes. Aparentemente, os líderes de TI tradicionais são avessos a riscos. Se protegem atrás dos muros do “compliance” dos frameworks ITIL, Cobit e ISO27.000. Esta postura tem um impacto significativo nos custos, sejam de OPEX ou CAPEX. Manter uma opção de uso de um software proprietário, alegando que em “time que está ganhando não se mexe”, ao invés de usar softwares livres, reduz a eficiência dos investimentos de TI nos projetos.

    Manter a opção de data center corporativos, alegando que Cloud Computing, ainda não é uma opção para os seus complexos sistemas corporativos, é uma desculpa para não abrir que os sistemas legados são mal estruturados, que não existe documentação e que não sabem como encontrar uma solução melhor para atender as demandas das áreas de negócios.

    Acredito que uma característica importante dos novos líderes é ser “conector”, ou seja, entender uma nova tecnologia e encontrar uma aplicação prática para alavancar novos negócios nas empresas. Os CIOs devem pelo menos ter duas características fortes: tomar riscos calculados e ser conector. Estas duas características ajudam a materializar a visão de futuro da empresa mais rapidamente.

    Um líder conector depende de fornecedores. Dificilmente, existem especialistas em novas tecnologias dentro da empresa. Logo, o relacionamento com os fornecedores deve ser o mais próximo possível. Trabalhar com fornecedores do modo antigo, usando RFPs para discutir preço não é uma das melhores maneiras para introduzir novas tecnologias nas empresas. Os fornecedores estratégicos devem fazer parte da solução e assumir riscos calculados, incluindo impacto na receita, nos projetos nas empresas. Aqui temos enormes desafios, nos dois lados.

    Para avaliar a eficiência dos investimentos de TI nas organizações uma das alternativas é trabalhar, colaborativamente, com outras empresas do setor, através de benchmarking.

    Fazer benchmarking com meus concorrentes é possível? Sim. Eu mesmo já fiz um benchmarking na fábrica da FIAT em Betin (MG) quando trabalhava na Ford. Depois, eles fizeram na fábrica da Ford em São Bernardo do Campo (SP). Existem regras bem definidas para estes benchmarkings, incluindo nos acordos formais entre as empresas.

    Outra alternativa, é a inovação aberta. Como funciona? A empresa cria um desafio descrevendo, detalhadamente, o problema a ser resolvido e envia para startups, empresas júniores, Universidades ou Centros de Pesquisas para buscar soluções “fora da caixa” para resolver o problema. As propostas são comparadas com a solução criada internamente e avalia-se qual é a mais eficiente. A vantagem desta alternativa é que se estimula a criatividade dos especialistas internos na busca de soluções não padronizadas e que desafiem o “compliance”.

    A pergunta para os CIOs não deve ser “quanto você projeta crescer seus investimentos em TI?” e sim “quanto de eficiência você projeta nos seus investimentos em TI?”.

    O uso do Custeio ABC para TI auxilia na estratégia para aumentar a eficiência dos investimentos. Veja o artigo sobre Custeio ABC para TI que postei anos atrás: Um Modelo de Custeio ABC para TI.

  • Geração distribuída é a alternativa para fugir dos altos impostos e melhorar a qualidade da energia

    Geração distribuída é a alternativa para fugir dos altos impostos e melhorar a qualidade da energia

    A greve dos caminhoneiros em maio de 2018 no Brasil evidenciou a fragilidade da infraestrutura e os altos impostos dos combustíveis. Se olharmos para outros insumos vemos que os impostos são igualmente altos na energia e telecomunicações. Estranha-se o fato que quando o preço do petróleo bateu US$30 o barril, os custos dos combustíveis e energia (utilizados nas termoelétricas) não refletiu no preço final ao consumidor. O maior imposto sobre os combustíveis, energia e telecomunicações é o ICMS (imposto sobre circulação de mercadorias e serviços). No caso da energia, o ICMS varia de estado para estado, podendo chegar a 32%, como é o caso do estado do Rio de Janeiro. No caso de telecomunicações, o ICMS varia de 27% a 37%, que somado a outras taxas e impostos pode chegar a 42,15%. A Internet ajuda a reduzir os custos de telecomunicações com o uso do aplicativos como WhatsApp, Skype e das aplicações web. A alternativa para a energia é a geração distribuída.

    O que todos queremos é o desenvolvimento da economia no Brasil. Os impostos são essenciais para investimentos em infraestrutura e para programas sociais para reduzir a desigualdade social. Entretanto, segundo a Curva de Laffer da economia, se aumentarmos muito as alíquotas dos impostos existe uma redução da receita. Christina Romer, Professora de Economia da Universidade da Califórnia em Berkeley e ex-presidente do Conselho de Assessores Econômicos da administração Obama estimou em 33% de impostos o ponto de máximo da Curva de Laffer. Se somarmos os tributos (soma de taxas, impostos e outros encargos) teremos em muitos casos um valor superior a 33%, tirando a competitividade das empresas que operam no Brasil.

    Como sabemos, a indústria é nômade. Ela se desloca para onde tem mais vantagens para operar. De cada 10 empresas que se instalam no Paraguai, 7 são de brasileiros. Isto porque as vantagens tributárias são mais vantajosas. O custo da energia é a metade do Brasil (eles passaram a usar a energia de Itaipu para alavancar a indústria no país). Os impostos são o de Renda (10%) e o do Valor Agregado (10%). Se a empresa entra no regime de maquila (100% para exportação), o tributo se converte em 1% sobre o faturamento. Para repatriar o lucro, paga-se duas IR: na saída do Paraguai e na entrada do Brasil. Muitos brasileiros estão montando datacenters no Paraguai para minerar bitcoins, devido ao baixo custo da energia e impostos de importação de equipamentos.

    Obviamente, não queremos ver nossas empresas em outros países, reduzindo ainda maior o número de empregos no Brasil. A alternativa para reduzir o custo da energia é investir em geração de energia distribuída, assim como vez a Honda e a Volkswagen. A Honda investiu na construção de um parque eólico no Rio Grande do Sul de 27,7MW, com uma geração de 85.000 MW/ano, que desde sua inauguração em 2015 foi suficiente para permitir a produção sustentável de 403.000 veículos.

    A resolução normativa nº 687/2015 da Aneel, uma revisão da resolução nº 482/2012, regulamenta o uso de microgeração e minigeração distribuída de energia elétrica. Na minigeração é possível instalar até 5MW e acoplar na rede de distribuição da concessionária de distribuição local para troca de energia. Quando existe excedente de geração a energia é transferida para a concessionária, que existe a necessidade de energia a concessionária fornece. No final do mês é feito um balaço e paga-se o que consumiu a mais da concessionária. O excedente gerado pela prosumer (consumidor que também gera energia) vira crédito para os próximos meses.

    A resolução nº687/2015 permite várias modalidades de geração distribuída, destacando a possibilidade de um empreendimento ter várias unidades consumidoras, geração compartilhada através de um consórcio ou cooperativa e, o autoconsumo remoto. Estas modalidades permitem o compartilhamento dos investimentos e produção de energia em escala maior, reduzindo o custo do megawatt instalado.

    O retorno do investimento (ROI) de uma usina de geração distribuída deve ser calculado considerando o risco de ficar sem energia. Com as dificuldades financeiras das concessionárias de distribuição de energia, muitas reduziram as manutenções da rede de distribuição de energia e, consequentemente, a qualidade da prestação de serviços caiu.

    As empresas não podem ficar reféns do desempenho das concessionárias de energia. Felizmente, existem alternativas para reduzir os custos de energia através da geração distribuída.

    Adicionalmente, o mercado livre de energia, ou seja, a compra de energia direta de geradores de energia, hoje restrita a empresas com demandas superiores a 500kW, deve ser gradativamente ampliada devendo contemplar todas os consumidores comerciais e industriais. A partir de 2023, existe a expectativa que os consumidores residenciais possam ir para o mercado livre de energia, deixando de ser cativos das concessionárias.

    Os instrumentos estão disponíveis, os riscos conhecidos, o que precisamos é agir para reduzir custos, melhorar a qualidade da energia para as nossas empresas e consumidores residenciais e, aumentar o número de empregos.