Eduardo M Fagundes

Tech & Energy Insights

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O Cenário do Setor Energético Brasileiro: Junho 2025

O setor energético brasileiro, que abrange eletricidade, óleo e gás, está em um momento de transformação em 2025, marcado por avanços tecnológicos, expansão de fontes renováveis e desafios regulatórios e ambientais. Com uma matriz elétrica 88,2% renovável em 2024, conforme o Relatório Síntese do Balanço Energético Nacional (BEN) 2025 da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), o Brasil se destaca globalmente pela sua liderança em energia limpa. No entanto, questões como o curtailment de fontes renováveis, gargalos na infraestrutura de transmissão e a ausência de regulamentações claras para tecnologias emergentes moldam um cenário complexo. Este artigo explora, de forma técnica, as principais dinâmicas do setor, com base em dados do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), da EPE, e outras fontes como a Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL), a Associação Brasileira de Energia Eólica (ABEEólica) e a Agência Internacional de Energia (AIE), considerando o contexto atual de 21 de junho de 2025.

A matriz energética brasileira atingiu 50% de renovabilidade em 2024, com destaque para a estabilidade da energia hidrelétrica (60% da geração elétrica) e o crescimento de fontes como eólica (17,5%), solar (11,5%) e biomassa, conforme o BEN 2025. A geração solar fotovoltaica alcançou 70,7 TWh em 2024, com um aumento de 39,6%, enquanto a capacidade instalada chegou a 48.468 MW, expandindo 28,1%. A energia eólica gerou 107,7 TWh, crescendo 12,4%, com 29.550 MW instalados, segundo dados da ABEEólica. A micro e minigeração distribuída (MMGD), majoritariamente solar, representou 5,6% da geração elétrica, mas sua expansão descontrolada (38 GW em 2024, projetada para 58 GW até 2029) contribui para o curtailment, que totalizou 4.330 GWh em 2024, segundo o ONS. Esse fenômeno, causado pela sobreoferta de energia em períodos de baixa demanda, reflete a necessidade de soluções como sistemas de armazenamento de energia (BESS) e melhorias na transmissão, especialmente em um dia como hoje, no início do período seco, que pode intensificar essas dinâmicas.

Os BESS emergem como uma tecnologia crítica para mitigar o curtailment e estabilizar a rede. O leilão de BESS previsto para 2025 visa alcançar 5.000 MWh até 2027, com tecnologias de estabilização de rede, como inversores que fornecem inércia sintética, sendo testadas para suportar a integração de fontes intermitentes, conforme apontado pela ANEEL. O ONS destaca que, sem medidas como o controle da MMGD ou o uso de BESS, o curtailment pode atingir 20% para fontes solares até 2029. Além disso, a crescente demanda por energia, projetada em 550 TWh/ano, impulsionada por datacenters e eletrificação de setores como transportes, exige investimentos estimados em US$ 20 bilhões em linhas de transmissão até 2029, segundo projeções da AIE adaptadas ao contexto brasileiro.

No setor de óleo e gás, a Margem Equatorial, que se estende do Amapá ao Rio Grande do Norte, é uma nova fronteira com potencial estimado em 30 bilhões de barris de óleo equivalente, conforme dados da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP). Em 2025, empresas como a Petrobras comprometeram US$ 4,3 bilhões em exploração, com o 5º Ciclo da Oferta Permanente de Concessão arrecadando R$ 1 bilhão em bônus em junho. Contudo, a exploração enfrenta resistência devido a riscos ambientais, com 86% dos blocos considerados incompatíveis com a biodiversidade marinha, segundo estudos independentes citados pela AIE. A produção de petróleo e gás na região pode atingir 4,9 milhões de barris/dia até 2032, mas exige soluções para minimizar emissões, que no setor energético totalizaram 431,3 Mt CO2eq em 2024, com 50% oriundas dos transportes, de acordo com o BEN 2025.

O hidrogênio verde é outra frente promissora, com 27 GW de projetos registrados e um marco regulatório em desenvolvimento (Lei nº 14.948/2024), conforme a EPE. A abundância de recursos solares e eólicos no Nordeste posiciona o Brasil como um potencial exportador para indústrias como fertilizantes e transporte pesado. No entanto, a ausência de regulamentações claras e a necessidade de infraestrutura dedicada limitam o progresso. Paralelamente, os biocombustíveis, como etanol (+2,8% em 2024) e biodiesel (+19,3% com o mandato B14), continuam a crescer, sustentados pela Estratégia Nacional de Economia Circular (ENEC, 2024), segundo a AIE.

Os desafios regulatórios são significativos. A derrubada do veto presidencial que prorrogava contratos de Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCHs) pode elevar as tarifas em até R$ 197 bilhões até 2050, segundo estimativas da Associação Brasileira de Distribuidores de Energia Elétrica (ABRADEE). A Medida Provisória 1.300/2025, que redireciona fundos da Conta de Desenvolvimento Energético (CDE) para isenção de tarifas de baixa renda, reduz subsídios para renováveis, impactando a MMGD, conforme apontado pela ANEEL. O adiamento do Leilão de Reserva de Capacidade (LRCAP) para 2025 exige medidas como a ativação de térmicas e programas de resposta à demanda, aumentando custos operacionais, segundo o ONS. Além disso, a escassez de mão de obra qualificada é um obstáculo, com o setor projetando 300 mil empregos até 2030, mas enfrentando dificuldades na formação de profissionais para áreas como solar e BESS, conforme dados da Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (ABSOLAR).

A vulnerabilidade climática também é um fator crítico. A dependência de hidrelétricas torna o Sistema Interligado Nacional (SIN) suscetível a secas, agravadas por ciclos El Niño/La Niña, especialmente em um período seco como o atual, iniciado em junho de 2025. O setor de transportes, que depende de petróleo (44,2% da matriz energética), contrasta com a matriz elétrica limpa, emitindo apenas 59,9 kg CO2/MWh em 2024, contra 260-650 kg/MWh em países como EUA e China, segundo a AIE. Subsídios de R$ 14,5 bilhões para combustíveis fósseis em 2023 evidenciam contradições na política de descarbonização, que busca atingir emissões net-zero até 2050, conforme o BEN 2025.

Por fim, as eleições presidenciais de 2026 podem influenciar o ambiente regulatório, especialmente em temas como subsídios, abertura do mercado livre de energia (prevista para 2028) e incentivos à transição energética. O Brasil, com sua matriz renovável e recursos naturais, está bem posicionado para a transição global, mas enfrenta a necessidade de coordenar políticas públicas, modernizar a infraestrutura e capacitar sua força de trabalho, especialmente em um contexto de início de período seco que pode testar a resiliência do SIN.

Este cenário reflete um setor em evolução, com avanços tecnológicos e desafios estruturais que demandam planejamento integrado. A COP30, sediada em Belém em 2025, será uma oportunidade para o Brasil reforçar seu compromisso com a sustentabilidade, enquanto o setor energético continua a desempenhar um papel central na economia e na agenda climática global, conforme observado em 21 de junho de 2025.

Fontes: Relatório Síntese do Balanço Energético Nacional 2025 (EPE), RT ONS DGL 0189/2025 (ONS), ANP, ANEEL, ABRACEEL, ABSOLAR, ABEEólica, AIE, Instituto Arayara, gov.br, epe.gov.br, abeeolica.org.br, absolar.org.br, iea.org.

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