Eduardo M Fagundes

Tech & Energy Insights

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O Futuro da Energia Renovável no Brasil: Integrando Hidrogênio Verde, BESS e Datacenters

O setor elétrico brasileiro enfrenta desafios significativos, como perdas técnicas e não técnicas, gargalos na transmissão e a necessidade de integrar excedentes de fontes renováveis, como os observados no parque eólico Pedra Pintada, na Bahia. Com a ascensão de tecnologias como hidrogênio verde, sistemas de armazenamento por baterias (BESS) e datacenters, e novos marcos legais, o Brasil tem a oportunidade de transformar esses desafios em soluções sustentáveis. Este artigo analisa como essas inovações podem otimizar o sistema energético, com base em dados recentes e tendências regulatórias.

Desafios do Parque Eólico Pedra Pintada e Perdas no Setor Elétrico

Inaugurado pela Enel Green Power em junho de 2025, o parque eólico Pedra Pintada, em Umburanas e Ourolândia, Bahia, possui 194 MW de capacidade instalada, gerando energia suficiente para cerca de 435 mil residências. No entanto, enfrenta cortes de geração (curtailment) de aproximadamente 11%, devido à baixa demanda local, especialmente em fins de semana, conforme decisão do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS). Esse problema é agravado pela distância entre regiões de geração renovável, como a Bahia, e centros de consumo, como o Sudeste.

O relatório da ANEEL (2025/2024) destaca que as perdas totais no setor elétrico atingiram cerca de 14% da energia injetada em 2024, sendo 7,4% (44,6 TWh) de perdas técnicas na distribuição e 2,1% na transmissão, com custos financeiros de aproximadamente R$ 11,2 bilhões. As perdas não técnicas, associadas a furtos e fraudes, somaram 6,6% (40,2 TWh), custando R$ 10,3 bilhões. Essas perdas evidenciam a ineficiência do sistema e a necessidade de soluções locais para reduzir a dependência de longas linhas de transmissão, que contribuem para dissipação de energia.

Soluções Locais com BESS: Viabilidade e Aplicações

Os Sistemas de Armazenamento de Energia por Baterias (BESS) são uma alternativa para aproveitar excedentes, como os de Pedra Pintada. A Brasol anunciou R$ 150 milhões em investimentos para 2025 no modelo “BESS as a Service”, voltado a clientes comerciais, industriais e agropecuários. Esse sistema pode reduzir custos de energia em até 20%, armazenando energia em períodos de baixa demanda para uso em picos, minimizando perdas técnicas e aliviando a rede.

Com custos globais de BESS estimados em cerca de US$ 300/kWh (aproximadamente R$ 1,5 milhão/MWh, ajustado por câmbio e impostos), uma instalação de 50 MWh demandaria cerca de R$ 75 milhões. Em microrredes agropecuárias na Bahia, onde a demanda por irrigação é significativa, o BESS pode substituir geradores a diesel, reduzindo custos e emissões. A viabilidade, porém, depende de avanços regulatórios. A Consulta Pública nº 39/2023 da ANEEL, encerrada em janeiro de 2024, discutiu a inclusão de BESS no setor elétrico, mas um marco regulatório definitivo ainda está em desenvolvimento, limitando aplicações em larga escala e a remuneração de serviços ancilares.

Hidrogênio Verde: Aproveitando Excedentes Renováveis

O hidrogênio verde, produzido por eletrólise com energia renovável, oferece uma solução para converter excedentes em produtos de alto valor. A usina piloto da Petrobras no Vale do Açu, Rio Grande do Norte, com investimento de R$ 90 milhões, utilizará energia solar para eletrólise, com operação prevista para 2026. Esse projeto valida tecnologias que podem reduzir custos de produção, atualmente estimados em US$ 3,5–5/kg no Brasil, para níveis mais competitivos, próximos a US$ 2/kg, com escala e incentivos.

Em Pedra Pintada, o excedente de geração (estimado em 98,3 GWh/ano) poderia ser convertido em hidrogênio verde, gerando milhares de toneladas anuais para aplicações industriais, como fertilizantes ou combustíveis. Apesar do alto custo inicial de plantas de escala média (centenas de milhões de reais), o aprendizado do piloto da Petrobras pode viabilizar projetos em regiões ricas em renováveis, como a Bahia, onde a Enel opera 1,9 GW de capacidade.

Marcos Legais: Impulsionando Hidrogênio Verde e Datacenters

A Lei nº 14.990/2024, sancionada em 2024, instituiu o Programa de Estímulo à Cadeia Produtiva do Hidrogênio Verde (PHBC) e diretrizes para o setor, complementada pela Lei nº 14.948/2024, que criou o Regime Especial de Incentivos para o Hidrogênio de Baixa Emissão de Carbono (Rehidro). O Rehidro oferece isenções de PIS/Cofins, redução de até 50% nas tarifas de transmissão e distribuição (TUSD/TUST) e isenção de encargos como a Conta de Desenvolvimento Energético (CDE) por 10 anos. O setor, porém, aguarda decretos e portarias que detalhem a implementação, como critérios de certificação e comercialização.

A Política Nacional de Datacenters, anunciada em maio de 2025, prevê desonerações de PIS/Cofins, IPI e impostos de importação por cinco anos, com foco em sustentabilidade e uso de energia renovável. Datacenters podem absorver excedentes renováveis localmente, reduzindo perdas técnicas e complementando BESS e hidrogênio verde. Contudo, gargalos na capacidade do Sistema Interligado Nacional (SIN) limitam a implementação no curto prazo.

Desafios Regulatórios e Cancelamento do Leilão de 2025

A viabilidade de BESS e hidrogênio verde depende de avanços regulatórios. A ausência de um marco definitivo para BESS, apesar das discussões na Consulta Pública nº 39/2023, restringe sua adoção em larga escala. Para o hidrogênio verde, regulamentações complementares ao Rehidro são esperadas para clarificar incentivos e comercialização.

Um obstáculo significativo foi o cancelamento do Leilão de Reserva de Capacidade (LRCAP) na forma de potência em 2025, anunciado pelo Ministério de Minas e Energia (MME) em abril de 2025, devido a disputas judiciais e questionamentos sobre a modelagem em um contexto de sobrecontratação. A Consulta Pública nº 010/2025 da ANEEL, encerrada em abril de 2025, buscou revisar as diretrizes do LRCAP, mas até 17 de junho de 2025, um novo edital não foi publicado, mantendo incertezas sobre a contratação de capacidade, incluindo BESS.

Impactos Sistêmicos e Soluções Integradas

A integração de BESS, hidrogênio verde e datacenters pode otimizar o setor elétrico brasileiro. BESS e hidrogênio verde permitem aproveitar excedentes, reduzindo perdas técnicas (7,4% na distribuição) e cortes de geração, como em Pedra Pintada. Datacenters, com alta demanda energética, podem consumir energia renovável localmente, aliviando o SIN. Investimentos em transmissão, como os R$ 21,7 bilhões contratados em 2024 para 4.471 km de linhas, são essenciais, mas demandam tempo, reforçando a necessidade de soluções locais.

A CDE, com orçamento de R$ 40,6 bilhões para 2025, pode financiar essas tecnologias, mas aumenta o risco de encarecimento das tarifas, especialmente com perdas não técnicas (6,6%) sobrecarregando o sistema. A regulação por incentivos da ANEEL, que limita o repasse de perdas não técnicas às tarifas, é crucial para liberar recursos para inovação.

Conclusão: Rumo a uma Matriz Energética Sustentável

O Brasil está em um momento decisivo para sua transição energética. Projetos como o parque eólico Pedra Pintada, a usina piloto de hidrogênio verde da Petrobras e a Política Nacional de Datacenters sinalizam um futuro promissor, mas enfrentam desafios de perdas, infraestrutura e regulação. Soluções integradas, como BESS e hidrogênio verde, podem maximizar excedentes renováveis, enquanto datacenters impulsionam a demanda local. A superação de gargalos regulatórios, incluindo a retomada de leilões de capacidade, será essencial para viabilizar investimentos e posicionar o Brasil como líder em energia sustentável. A colaboração entre governo, setor privado e reguladores é fundamental para equilibrar inovação, sustentabilidade e acessibilidade energética.

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