A ingenuidade das pessoas com as redes sociais

O Facebook está sendo acusado de permitir o acesso a dados de 50 milhões de usuários pela consultoria Cambridge Analytica, através do pesquisador Aleksandr Kogan do departamento de psicologia da Universidade de Cambridge, e que estas informações teriam influenciado a campanha presidencial que elegeu Donald Trump. Este é o negócio do Facebook e de outras redes sociais, fornecer dados a empresas para testar e treinar seus algoritmos de inteligência artificial para entender e influenciar os consumidores. Este fato tornou-se polêmico porque evidenciou que se bem usados (para o bem ou para o mau) os softwares de inteligência artificial podem até eleger presidentes. É muita ingenuidade das pessoas acreditar que podem usar as redes sociais de graça, armazenando e trocando dados e fotos, sem terem que oferecer uma contrapartida para a empresa. O fato é que quando nos tornamos usuários de uma rede social aceitamos, contratualmente, seus termos de uso dos dados. Com as recentes tecnologias de Big Data, IoT e Inteligência Artificial (Machine Learning e Deep Learning) é possível entender a lógica dos algoritmos orgânicos das pessoas e gerar dados de entrada que as levem a tomar decisões controladas.

Redes Sociais

Vivemos em um mundo onde as pessoas têm necessidade de compartilhar suas informações pessoais, need to share, por várias razões: aumentar sua popularidade, expansão da sua rede de contatos (para fins pessoais ou profissionais), gabar-se do seu estilo de vida, fazer bullying, criticar a sociedade, evangelizar suas crenças, entre outras. Imagine fazer tudo isto de graça. Obviamente, não existe “almoço grátis”, as redes sociais coletam informações de todos os movimentos de seus usuários. Por exemplo, a Google conhece suas preferências pessoais. O Waze conhece os seus destinos. O Facebook conhece seus amigos melhor que você. A Netflix conhece suas preferências de filmes. O Spotify conhece seus gostos musicais.

As operadoras de cartão de crédito já faziam isto antes da popularização das redes sociais. A cada compra que um usuário faz alimenta um banco de dados com o perfil de compras, incluindo lojas e valores. Os bancos conhecem mais da nossa financeira do que nós mesmos. As empresas de análise de crédito conseguem estabelecer o risco de crédito para cada um de nós quando solicitamos um financiamento. As farmácias para te dar um desconto nos medicamentos pedem o seu número de CPF e associam todas as suas compras, conhecendo suas doenças e conseguindo até prever que tipo de doença você terá no futuro. Os supermercados com seus programas de fidelidade e descontos para clientes conhecem seu perfil de compras e das comunidades que atendem, podem fazer compras e distribuição de produtos com mais eficiência. Os assinantes de jornais digitais oferecem informações das noticias que mais os atraem, com possibilidade de os jornais direcionarem reportagens que mais lhe agrade para manter sua fidelidade. Os partidos políticos podem usar informações de várias fontes de dados para conhecer os eleitores do cargo que concorrem para ajustar o seu discurso e vencer as eleições.

Nossa privacidade já foi para o espaço (virtual) a muito tempo. Querer recupera-la agora é quase impossível. Você teria que deletar todas as suas contas nas redes sociais, usar só dinheiro em espécie, pagar mais caro nas farmácias e supermercados, usar telefone público, abrir mão de sua aposentaria pública, ganhar salário mínimo para não declarar imposto de rede, fazer picos para ganhar “por fora”, não usar o Uber, não se hospedar através do AirBnB, não viajar de avião ou de ônibus. Ou seja, você tem que se tornar um ermitão sem nenhum patrimônio.

Acredito que a solução para viver melhor nesta sociedade vigiada e aberta, sem privacidade, é necessário que as pessoas tomem consciência que existem ataques para manipula-las e que devem forçar novas formas de pensamentos, questionando tudo que leem, veem e ouvem. Deixarem o alinhamento automático com as ideias e crenças da maioria. Leiam livros de diferentes assuntos e correntes sociais e políticas. Tenham em mente que tudo que você pensa e faz está sendo vigiado por alguém e que o “livre arbítrio” deve ser questionado.

Por outro lado, os avanços tecnológicos e o poder de análise de dados usando inteligência artificial devem ser explorados para melhorar a qualidade de vida das pessoas, mitigar nossos desafios com as mudanças climáticas, criar novos hábitos de consumo consciente, participar mais ativamente da vida política, acabar com a corrupção, entre outros benefícios.

Vivemos em uma nova realidade econômica, ambiental e social. Temos que compreender e agir de forma racional para a evolução saudável da sociedade e preservação da vida.